sábado, 1 de junho de 2013

A Dor do Retorno....


Nasci em um lar humilde, no campo e sem conforto. Tive uma vida de sacrifícios, mas nunca presenciei uma discussão entre os meus pais. Sempre houve respeito entre eles e se acontecia alguma briga, os filhos nunca ficaram sabendo. Tudo era resolvido entre os dois, não existia plateia. Ao contrário da minha casa, que não se conhecia a palavra respeito. Como tudo estava bem na parte financeira, ele resolveu que iríamos passear em Pernambuco, pois queria conhecer minha cidade natal, Poção. Era o ano de 1986. Eu, estava voltando ao meu lar com um marido e duas crianças, uma de 4 e outra de 3 anos. A minha irmã Luiza tinha ganhado neném e nos convidou para sermos padrinhos da criança. Aproveitamos a oportunidade e fomos para batizar o bebê.

 Chegamos em Pernambuco foi tudo uma festa, todos alegre. Nós estávamos Sempre passeando, revendo os amigos que há muito tempo não os via, mas dentro de mim estava doendo muito a saudade do meu pai. Em cada lugar, em cada objeto, estavam as lembranças dele. Naquelas terras que ele cultivou, nas árvores que ele plantou e deram frutos, nas cercas que fez; todas as coisas que ali existiam me falavam dele. Daquele homem simples, honesto, digno de caráter, que trabalhou sua vida inteira para criar os filhos. Com suas mãos calejadas, não importava se chovia ou fazia sol, estava dando duro para não deixar faltar o necessário à sua família. Aquele pai sem estudo, mas com tamanha sabedoria. Sabedoria essa que adquiriu não nos livros e sim em sua trajetória de vida. Nos ensinou os verdadeiros valores da vida, o carater a honestidade  o respeito à dignidade, foi essa a verdadeira riqueza que ele nos deu.

 Fui obrigada a aceitar a realidade: ele não estava mais ali, tinha partido para não mais voltar e por mais forte que fosse a minha dor, teria que me conformar. E continuar com a minha vida. Teria que aprender a viver sem ele. De alguma forma, ainda tinha a ilusão de que o meu pai estaria lá, pelo fato de não ter participado do seu velório, do seu enterro. Por não ter estado presente e compartilhado a minha dor com os demais. Fui obrigada a sofrer sozinha e sufocar tudo que estava sentindo. E ainda ouvir que era a única responsável pela morte do meu pai, que por causa de mim meus irmãos estavam sem pai e minha mãe sem marido. Agora eu estava no lugar onde as lembranças eram mais presentes, pareciam estar vivas dentro de mim e mais uma vez eu teria que ser forte. Precisava ser forte para a minha sobrevivência.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma Nova Esperança...

Começava a surgir uma esperança de que a vida sentimental iria melhora. O financeiro estava melhorando e carregava comigo uma certeza de que tudo ficaria bem. Não tinha mais motivo para tanta preocupação. Já tínhamos um carro, morávamos em um lugar melhor e eu já podia até ir a uma loja e compra roupas para ele, para as crianças e pra mim também. E, além do carro, também tínhamos uma moto. Comecei a sonhar. Voltei para o meu mundo de fantasias acreditando que a partir daquele momento as agressões verbais e psicológicas tinham acabado. Com certeza a minha vida mudaria, eu seria feliz! A minha filha que, desde os primeiros meses de idade presenciava cenas de violência entre mim e o pai dela, agora iria viver diferente. Quantas vezes eu, chorando, com ela no colo, ouvi suas ameaças, esbravejando que iria embora. Ela com a carinha assustada, também chorando, sem saber o porquê de tantas brigas. Ela não entendia, só chorava.

  E foi assim em um ambiente desequilibrado que ela foi criada. Vendo e ouvindo os pais se destruindo no dia a dia. Com certeza tudo mudaria, a paz iria reinar no meu lar, e eu não veria mais aquela carinha assustada, aqueles olhos amedrontados, muitas vezes com os bracinhos em volta do meu pescoço me apertando como quem pede ajuda. Naquela época não podia ajudar nem a minha filha, nem a mim mesma! Como me enganei.  Acreditei que a partir de uma mudança financeira a vida iria mudar. Ao contrario, ele começou a sentir ciúmes, ou melhor, aumentou. Ciúmes de mim ele já tinha. Mas, agora, eu não podia falar com mais ninguém. Todos os amigos dele eram casos meu. Confesso que se fosse hoje, com a cabeça que eu tenho, me sentiria até mais poderosa. Só que, naquela época, isso pra mim era uma ofensa. Sentia-me ofendida e agredida com as insinuações dele porque eu aprendi que a mulher tem que se respeitar e respeitar o seu marido. Sou contra a traição e a leviandade não faz parte da minha índole.
 Aprendi que teria que ser mulher de um homem só. Se outro homem me olhasse a culpa seria minha porque de alguma maneira eu estaria me insinuando. A responsável é a mulher. Foi essa a educação e o ensinamento que eu tive. Ouvi isso a minha vida toda desde criança: o homem pode tudo e ele só entra onde encontra uma brecha.  Hoje, vejo quanta ignorância, quanto preconceito voltado para a mulher e como fomos tão massacradas tantos anos e ainda é assim. Mas eu ouvia com vergonha as agressões dele. Dando-me um homem por semana! Além da humilhação, minhas crianças cresceram ouvindo que a mãe deles era uma mulher qualquer.

domingo, 19 de maio de 2013

11 de abril 1983...

No dia 11 de abril de 1983, às 11 horas e 45 minutos, nasceu Silvio com três quilos, setecentos e vinte e cinco gramas, medindo cinquenta centímetros. Um menino forte, bonito cheio de vida. Tudo correu bem, quando acordei já estava indo para o quarto quando o pai dele todo feliz me falou o quanto ele era bonito, que a enfermeira havia levado o bebê para que ele o conhecesse. Como ainda estava sob o efeito da anestesia, adormeci e não vi o meu filho.

 Só me levaram a criança na hora de mamar. Realmente era um belo menino. Como toda mãe, chorei de emoção ao ver o meu filho pela primeira vez. Foi lindo poder pegar nos braços e amamentar um ser tão indefeso, tão pequenino. Nessa hora olhei para o meu filho e chorei pensando em tudo que passamos juntos ate aquele momento. Do remédio que eu fui obrigada a tomar para aborta o meu filho, de quando ele colocou o pé na minha frente com a intenção de nos derrubar, das brigas que ele presenciou dentro da minha barriga, quando ele bateu em mim sem se preocupar com minha gravidez de sete meses, sem dúvida ele sentiu todas aquelas emoções junto comigo.
 Foi como um filme passando pela minha cabeça. Mas, agora, aquele bebê estava nos meus braços. Tudo o que eu passei foi por ele e por Silvia. Ele nos meus braços sentia-o como a grande recompensa depois de tudo. Foi o que senti naquela hora. Depois de cinco dias recebi alta e voltei para casa. Chegando lá, Silvia veio ao meu encontro chorando pedindo colo. Como ainda não podia pegar peso, só me restava chorar junto com ela. Mas, sempre se dava um jeitinho de coloca-la na cama para que eu pudesse ficar brincando com ela.

 Os dias foram passando. Agora, eram duas crianças: serviço dobrado, eu operada, fazendo tudo com mais lentidão. Como a minha mãe estava em casa, ela ajudava e muito, só que eu não queria abusar dela. Ele, quando chegava do trabalho, ajudava em tudo, sem reclamar de nada e até muitas vezes fazia o jantar. Sem falar nas roupas das crianças que ajudava a passar. Era novamente uma família perfeita, sem brigas, só harmonia. Mas, tudo fazia parte de seu plano de passar uma imagem do marido bonzinho, como, de fato, acreditava minha família.

 Quando se passaram os quarenta dias, minha mãe voltou para Pernambuco e a vida continuou como antes: uma semana de brigas, outra de paz. Quando estava tudo calmo eu ficava tão feliz que esquecia tudo que tinha acontecido. As crianças crescendo, Silvio já com nove meses e Silvia com quase dois aninhos.
 Ele conseguiu comprar um carro e começou a trabalhar por conta própria. Era um ótimo eletricista. As dificuldades foram diminuindo e saímos da favela onde morávamos até então. Alugamos dois cômodos no bairro do ABCD em Diadema mesmo. A minha geladeira já não vivia tão vazia e as crianças tinham frutas, verduras e iogurte. A vida começava a mudar, uma nova luz surgia no horizonte.

domingo, 12 de maio de 2013

Visita da Minha Mãe.

Quando chegou a época do meu filho nascer, minha mãe veio de Pernambuco para cuidar de mim. Como eu já tinha a Silvia com um aninho, necessitava de alguém que me ajudasse. Também não queria deixar a Silvia sozinha. Seriam cinco dias longe de casa. E se a deixasse com alguém fora de casa com certeza ela iria estranhar. Era assim que eu pensava.
Com a chegada da minha mãe, ele se transformou em um marido exemplar. Fazia de tudo para agradar e até me ajudava nos afazeres da casa, além de cuidar do bebê. Era o genro que todas as mães pedem a Deus. O clima melhorou. Parecia uma família perfeita. Tudo parecia esta bem, mais eu sabia que o motivo daquela transformação era pela presença da minha mãe.

 Lembro exatamente de quando fui ganhar meu segundo filho. Era dia 10 de abril de 1983, um domingo. Passei aquele dia sozinha, com minha filha, ainda um bebê. Temia que chegasse a hora de ir para o hospital e não ter ninguém para me ajudar ou ter que deixa minha filha com pessoas estranhas. Aquela altura já sabíamos que no dia seguinte eu estaria indo para o hospital, para ficar internada. Já tinha a carta da minha medica nas mãos, pedindo a internação. Naquela dia minha mãe quis passar com meu irmão e a família dele.
 Por causa da idade avançada e da distância, além de não conhecer o caminho, ele teve que acompanhá-la. Foi prometendo que voltaria para ficar comigo. E eu acreditei. Fiz o almoço e fiquei esperando ele chegar, o que não aconteceu. Eu sozinha com uma criança podendo a qualquer momento entrar em trabalho de parto. Naquele momento só conseguia pensar como alguém pode agir com tanta frieza me deixando sozinha naquele estado. Será que não passava pela cabeça que eu não poderia ficar só?

 Para não ficar mais nervosa do que eu estava fui me distrair. Limpei a casa, cuidei da roupa, deixei tudo em ordem. Mesmo morando em um barraco sempre gostei de ver tudo limpo e organizado. Foi assim que eu aprendi como as coisas deveriam ser feitas dentro de casa. Pobreza não é sinônimo de sujeira. Chegaram por volta das oito da noite. Parecia que tudo estava bem. Era como se nada tivesse acontecido. Mas, confesso, estava revoltada e acabei não me segurando. Tivemos uma discussão. Fui dormir, mas acordei durante a madrugada, às 3 horas, sentindo muitas dores. Levantei, tomei um banho, fiz um café. Por volta das 5 horas não aguentei mais e o chamei. Ele acordou assustado perguntando por que eu não o acordei antes.

 Saiu às pressas de casa. Quando voltou tinha conseguido um carro para me levar ao hospital, onde fui internada imediatamente, como já era esperado. Estava frio e chovendo. As cólicas amenizaram e então consegui dormir. Só acordei com o médico entrando no quarto para me examinar. Logo em seguida ele disse que a criança estava sentada e, rapidamente, me levou para o centro cirúrgico. Não sei se é porque eu estava nervosa, mas o efeito da anestesia passou rápido demais e decidiram me aplicar algo que me fez dormi. Mas, antes de dormir, lembro-me do médico me perguntando o que eu tinha em casa. Então respondi que era uma menina. - Aqui tem um menino e bem folgado! Esta sentado – ele falou. Eu ri e adormeci.

sábado, 4 de maio de 2013

Muita Humilhação...

No momento em que ele colocou o pé com intenção de me derrubar eu tropecei ;e, automaticamente, ;segurei a Silvia com rapidez e com tamanha força que me mantive firme. O meu instinto de mãe foi proteger os meus filhos e com certeza a mão de Deus veio sobre nós naquele ;momento me dando o equilíbrio necessário.color:Equilíbrio que nem sempre me acompanhou naquela fase. Em muitos momentos pensei que iria enlouquecer. Talvez pudesse já estar por deixar que ele dominasse a mim e a minha vida daquela forma. Só quem viveu ou ainda vive essa situação sabe o que estou falando. A Silvia se assustou também e começou a chorar. Eu parei. Estava sem entender o porquê daquela maldade. Comecei a chorar em silêncio. Nunca gostei de escândalo, principalmente em público. Estava com medo. Diminuí o passo até o ponto de ônibus, ficando um pouco distante dele. Chegando em casa começou uma discussão. Ele me bateu. Pela primeira vez ele se atreveu. Bateu na minha cara e doeu. A pancada foi forte. Eu nunca havia levado uma tapa de um homem, na cara e nem em lugar nenhum do meu corpo. Nem meu pai nunca levantou a mão para mim ou para outro filho. Mas, naquele dia ele me bateu! 

Como foi difícil suportar aquela noite ao lado dele. Passei a noite toda pensando no que eu poderia fazer. Nenhuma conclusão, a não ser continuar ao seu lado. Eu não tinha para onde ir. Eu só tinha medo e duas crianças sob a minha responsabilidade. Uma com oito meses e a outra no meu ventre. Quanta decepção para uma mulher ao descobrir que, com tão pouco tempo de casamento, o homem com quem ela pensou que poderia ser feliz, vivendo em sua companhia todos os dias da sua vida poderia se transformar em um agressor.  De repente, o conto de fada acaba e ela vê seu príncipe encantado virando um sapo. Nesse dia eu descobri que não é o sapo que vira príncipe, e sim o príncipe que vira sapo. E eu teria que engolir aquele sapo pelo resto da minha vida. Aquele homem que bateu no meu rosto não respeitando a barriga de seis meses. E aquela criança que estava se desenvolvendo dentro de mim, chutava tanto que eu até pensava que um dia seria jogador de futebol. Que respeito eu poderia ter por esse homem? Nenhum! Mas, os dias foram se passando e com o tempo a gente vai esquecendo tudo o que aconteceu. A dureza da vida e a carência afetiva fazem com que tudo volte ao seu lugar. Com todo mundo é assim. E comigo não poderia ser diferente. Na minha fragilidade em vários momentos me flagrei implorando pelo seu amor. Ou melhor, pelas migalhas. E quanto mais eu implorava, mais ele judiava de mim. Ele sabia o quanto eu era sozinha e o quanto eu dependia dele.
Quantas vezes durante uma briga ele falava que ia embora eu ficava desesperada, me perguntando o que seria de mim? Sem trabalho, com duas crianças, sozinha. Era isso que passava pela minha cabeça. Voltar para minha cidade como? Do que eu ia viver?  Como manter as crianças? Eu chegava a me ajoelhar aos pés suplicando, pedindo pelo amor de Deus que ele não me abandonasse.Eu fechava a porta e, ao mesmo tempo, escondia a chave para ele não ir embora. Quando ele percebia que tinha me humilhado o suficiente, que eu já não tinha mais lágrimas para chorar, satisfazendo seu ego, ele falava: tá tudo bem, dessa vez eu não vou embora, mais da próxima você não vai mais ter chance. E foi assim que eu vivi a minha segunda gravidez, um pouco mais dramática do que a primeira.

domingo, 28 de abril de 2013

Segunda Gravidez....

Quando minha filha estava com cinco meses, descobri que estava grávida de novo. Como eu amamentava, acreditava que não corria risco. Imediatamente, ele me disse que não tinha chances dessa criança nascer. - Você vai ter que tomar remédio e dessa vez tem que ser da farmácia, exclamou. E eu disse tudo bem.

 Mesmo contra a minha vontade, por que eu não queria tomar nenhum remédio e mais uma vez arriscar a vida de uma criança, cometer mais uma tentativa de aborto  sim, eu já havia tentado abortar antes disso, sempre incentivada por ele. Também não tinha como dizer não a ele. Eu não sabia como fazer isso. E para que tudo corresse da melhor forma possível, eu precisava ser boazinha, ser obediente, por que era assim que ele gostava de mim. E por mais que eu estivesse agredindo a mim mesma, não tinha importância. O importante era agradá-lo, fazer tudo o que ele queria, sempre mandando e eu obedecendo.

 Ele chegou com algo que o farmacêutico passou. Tomei dois vidros e nada aconteceu. A minha criança sobreviveu e eu fiquei feliz. Eu não estava mais suportando conviver naquele ambiente de tanta discórdia. E talvez ele também gostasse da ideia de ficar a sós comigo. Eu só não sabia exatamente ainda o porquê, o que me aguardava naquele futuro próximo.

 Decidimos comprar um barraco na favela do Pixote, no Jardim Canhema, Diadema, para onde nos mudamos. Eu, grávida, aquela vida simples: chuva, enchente, barraco, alagado, brigas. Logo o marido aprendeu a fazer chantagem, ameaçar sair de casa toda vez que brigávamos. Eu com medo ficava apavorada. Não é redundância. Vivia com medo e outras tantas vezes também apavorada. Sozinha, com uma criança no colo e a outra na barriga, o que eu podia fazer? Eu implorava, chorava, pedindo para ele não ir embora. Não me dava conta de que isso alimentava sua maldade. Na verdade, ele ficava feliz em me ver sofrendo, chorando pelos cantos. Atirava na minha cara, todos os dias, que eu não prestava, que ate o meu pai eu tinha matado.

 E, cada vez mais, a revolta me consumia, a magoa aumentava, a tristeza tomava conta de mim passando a fazer parte da minha vida. Eram sentimentos que antes eu não conhecia. Fui criada no campo, correndo feliz sem maldade. O sorriso fazia parte do meu dia a dia. Eu sempre sonhei em ter alguém na minha vida que fosse ao mesmo tempo meu amigo e meu companheiro. Tinha um pai que me amava. Tenho uma lembrança dele que sempre me acompanha. Um dia, sai para buscar ingá, uma fruta de época lá no Nordeste. Estava ameaçando um temporal, mas, mesmo assim, não dei importância e subi no alto de uma árvore. Estava despreocupada quando a tempestade desabou e com o vento forte eu não podia desce. Estava apavorada sem saber o que fazer, quando ouvi a voz do meu pai. Ele estava ali para me proteger. Foi me buscar exposto aos raios, ventos e trovões daquela tarde, que ate hoje está viva nas minhas lembranças.

 Mas, agora, um dia era alegria, no outro, sofrimento. E assim a vida continuava. As dificuldades financeiras só aumentavam. Tinha dia que eu esperava ele me trazer um pedaço de carne dentro de um pão para poder almoçar. Passei todas as dificuldades que a vida possa oferecer ao lado de um homem, mas sempre estive firme ao lado dele, procurando economizar de todas as formas para contribuir. Mais nunca recebi uma palavra de agradecimento.

 E a minha barriga crescendo. Felizmente Silvia era um bebezinho que preenchia os meus dias. Era dela que eu tirava força para conseguir suportar as indiferenças que a vida e algumas pessoas me ofereciam. A minha família, como minha mãe e meu irmão, acreditavam muito nele. A errada era sempre eu. Então, falar pra quem? Ou para quê? Quem estaria disposto a me ouvir? Ninguém! Em um final de semana, como todos os outros, fomos pra a casa dos pais dele. Começou uma discussão e, como sempre, fui o pivô. Ele fechou a cara pra mim. Eu estava de cinco ou seis meses de gravidez. Saindo de lá, estava com a Silvia no colo e uma bolsa pendurada no ombro. Cena típica.

Como ele estava com raiva de mim, não me ajudou. Pelo contrário. Colocou o pé na minha frente para que eu caísse. Quanta maldade! – pensei. Mas, naquele momento de fragilidade, só pensava no que poderia ter acontecido com meus filhos. O impacto foi grande. Mais tarde, conversando com alguns psicólogos, me disseram que até corremos o risco de uma rejeição da parte da criança, ainda no útero.

domingo, 21 de abril de 2013

Conhecendo o Meu Bebê...

Só depois da visita que eu conseguir ver e amamenta o meu bebê, mas ela ainda estava um pouco inchada, roxa, afinal, estava passando da hora de nascer. Saiu da minha barriga e foi direto para o balão de oxigênio. Não sei dizer quanto tempo ficou lá. Naquela época a mulher ficava cinco dias na maternidade. E, mesmo quando recebi alta, me avisaram que a criança ficaria internada alguns dias.

 Foi difícil sair e deixar o meu bebê. Como fiz uma cesariana não podia ir ao hospital vê-la. O pai saía do trabalho ia direto visitá-la. E assim os dias se passaram. Uma semana depois, o pai chegou com o bebê. Não vou esquecer nunca aquele dia que eu a tomei nos braços. Ela era linda. O rostinho afilado, os olhos verdes, os cabelos loiros, era uma criança tão linda, e era minha filha. Estava comigo no meu colo e eu podia amamentá-la, podia dar banho, apesar da falta de experiência.

 Lembro do medo que tive no primeiro banho, os cuidados com o umbigo... Meu Deus! E trocar as fraldas?! Tinha medo de quebrar a coluna dela. Mais fui ganhando pratica e, no dia a dia, se tornou uma tarefa simples. A mulher trás com ela o dom de ser mãe, mesmo não tendo uma faculdade de mãe, mesmo não tendo nenhuma orientação, mesmo sentindo tanta insegurança. De repente, quando ela descobre que está grávida, que dentro dela esta sendo gerada uma vida, e que essa vida é parte dela, mesmo não sabendo de nada, se torna mãe. Sabia que ela estava a caminho e que, com sua chegada, uma grande responsabilidade também viria. E aprendi assim, tudo na raça. Pelo menos, foi assim comigo.

 Mas, o amor supera todo o medo, toda a insegurança. A mulher é forte. E muitas de nós só descobrem isso nesse momento. É quando provamos para nós mesmas que somos capazes de superar todos os obstáculos, por nós, e, algumas vezes, por eles: os filhos. Suportar os problemas de família era difícil. A minha cunhada, irmã do meu marido, estava grávida. Ganhou o neném dela três meses antes de mim. Eu ia todos os dias para a casa dela para ajudá-la, acreditando que quando chegasse a minha vez fariam o mesmo por mim. Enganei-me. Fui largada sozinha, operada, sem poder fazer quase nada.

 Na época, não existia fralda descartável, nem maquina de lavar. Muito menos secadora. Era tudo na mão. Mas, ainda assim, tudo seria ótimo se não fossem às brigas, a família interferindo em tudo e a falta de dinheiro. Eu morava no quintal da casa de meu irmão, que morava com a mulher. Eu, meu marido e a bebê morávamos em um cômodo. Era pequeno, mas a ideia era gastar menos possível para economizar. Mas, em nada adiantou. Sempre tinham brigas e mais brigas. A minha cunhada, junto com a família dele, sempre provocando e arrumando confusão. Tudo o que eu fazia era motivo para brigas. E também existiam as brigas com a minha cunhada, mulher do meu irmão.

 Lembro de uma vez em que a roupa estava estendida no varal e começou a chover. Saí correndo para recolhê-las, mas acabou ficando uma toalha de mesa. Na pressa, puxei e o prendedor que acabou caindo no chão. Não demorou muito para que ela chamasse o meu marido para mostrar o que tinha acontecido, alegando que eu tinha feito de pirraça e que ela não permitiria aquele tipo de desaforo no seu quintal. Até o meu irmão ficou sabendo do que aconteceu. Era insuportável conviver com ela também. Por qualquer motivo ela fazia um inferno da minha vida.