domingo, 30 de junho de 2013

Aceitando as Mingalhas..

Terminamos de fazer as compras. Voltamos para casa, o clima já era, o de uma família perfeita. Eu estava alegre, feliz, tudo estava resolvido à paz voltava a reinar na minha vida. Quando chegamos em casa, ele sugeriu. que eu ficasse fazendo o almoço enquanto ele iria buscar o meu sobrinho. E foi no meu irmão como se nada tivesse acontecido. Pegou o moleque e veio pra casa; estava tudo bem ninguém podia mais falar no que aconteceu, aquele assunto estava encerrado.
 Almoçamos em seguida ele saiu para visitar um cliente, estava feliz me beijou saiu com a maior naturalidade, fiquei com as crianças contente agradecendo a Deus por que ele estava bem. E se ele estava bem, eu também estava. Eu vivia em função do bem estar dele, era sempre ele em primeiro lugar. Peguei tudo que era meu levei de volta e arrumei no guarda-roupa, e o que era do meu sobrinho mandei para a costureira consertar. A vida voltou ao normal, como sempre uma semana de brigas na outra uma falsa paz, essa era a minha realidade. E muitas vezes eu conseguia passar a imagem de uma mulher feliz.

 Sempre que acontecia uma desavença entre nós ele ameaçava sair de casa, mas ficava só nas ameaças, eu chorando, humilhada me rastejando aos seus pés, conseguia impedi que ele fosse embora, mas chegou uma hora que ele começou a sair de casa, brigava pegava algumas roupas e ia embora, ficava fora uma noite, no outro dia voltava como se aquela atitude fosse normal, eu que tinha passado a noite chorando em desespero, me atirava em seus braços radiante, me sentindo feliz, fazia tudo para agradá-lo, algumas vezes ate chorava de alegria por ele ter voltado.

 E dessa forma fui me anulando. Esquecendo que eu era gente, que dentro de mim habitava um ser humano, com sentimentos e emoções. Esqueci de viver a minha vida para viver a vida dele. Aos pouco fui matando a minha amiga Marlene! Enquanto isso, foi surgindo uma mulher sem iniciativa, sem vontade própria. Uma mulher que aceitava tudo que falavam ao seu respeito, me sentindo inferior a tudo e a todos. Esqueci  meus sonhos  meus ideais. Fui perdendo o meu respeito  minha dignidade. Conhecendo a magoa e a revolta, esquecendo que um dia falei da paz e acreditei no amor.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma Noite de Terror..

Naquela noite, sozinha com duas crianças, um marido opressor, sem ter a quem pedir ajuda, não sabia o que fazer. Chorei! Senti medo. A noite seria longa, não tinha idéia do que ele era capaz de fazer comigo. As crianças assustadas; eu não conseguia entender o porquê da situação, como alguém poderia transformar a vida em um verdadeiro inferno? E tão rápido. Não sabia como reagir.

 Peguei as crianças, dei banho, jantaram. Em seguida fui com elas para o quarto, quando dormiram fui até a cozinha ao passar pela sala percebi que ele estava dormindo no sofá. Senti vontade de tomar banho, mas estava com medo que ele pudesse acordar; peguei uma faca que costumava usar para cortar carne, levei comigo para o quarto e coloquei debaixo do travesseiro.

 Deitei-me ao lado das crianças, mas não consegui dormir. Estava frio e a sensação era que as horas não passavam. Estava desconfortável e não conseguia me aquecer, com a mesma roupa que usei durante o dia: calça jeans e tênis. Durante a noite, ele entrou no quarto, várias vezes acreditando que eu estava dormindo. Chamava-me e perguntava se eu não ia embora.

 O dia já estava amanhecendo quando consegui dar um cochilo. Não demorou muito ele chegou e disse: “levanta, pegas suas coisas e vai embora!”. Eu abri os olhos, suspirei e pensei: “não foi sonho, o pesadelo continua”. Levantei, fiz café e preparei o leite para as crianças. Na sala roupas, sapatos, tudo que era meu estava ali jogado no chão. Ele me torturando, querendo que eu fosse embora e não voltasse. Deixe-o falando e fui ligar a TV para as crianças assistirem desenho animado. Naquele exato momento, o Papa João Paulo II estava rezando um Pai Nosso pelo dia Mundial da Paz. Era uma segunda feira dia 27 de outubro de 1986.

 Chorando, rezei junto com o Papa e pedi uma luz para Deus. Supliquei pela paz na minha casa, já não estava mais aguentando aquela situação. Pedi que Ele me ajudasse, olhasse por mim e pelos meus filhos, que desde o sábado presenciavam aquelas cenas. Passou algum tempo e eu tomei uma decisão. Iria à casa dos pais dele ver o que poderiam fazer por mim. Peguei a bolsa e sai deixando as crianças com ele, afinal, era o pai e com certeza não ia fazer nenhum mal a elas.

 Pensando assim fui embora, mas quando desci do ônibus e estava atravessando a rua ouvi uma voz chamando mamãe! Olhei e era a minha filha. Levei um susto! Logo que sai de casa ele pegou as crianças, colocou no carro e veio atrás de mim, seguindo o ônibus. Em frente ao ponto de ônibus tinha um supermercado; ele entrou, estacionou, foi até a lanchonete como se nada estivesse acontecendo e pagou lanche para todos nós. Me chamou para fazer compras porque não tinha nada em casa e o armário estava vazio. Eu olhava e não acreditava no que estava acontecendo, mas confesso estava feliz: tinha acabado de receber um pouco de migalhas e ele estava me tratando bem.

domingo, 16 de junho de 2013

Fim das Ferias....

Que alívio! Em casa outra vez. Aqui eu não precisava ficar preocupada com o que ele aprontava; estava só, ninguém ia ficar sabendo o quanto sofria, das humilhações que era obrigada a passar, dos sapos que tinha que engolir. Não ia ter que ficar me perguntando o que estão pensando a meu respeito, porque estão me olhando com esse olhar de interrogação, “como ela pode permitir que alguém a maltrate tanto assim?”

 Quando chegamos a Diadema ele comprou outro carro e voltou a trabalhar. A vida parecia normal entre lágrimas e sorrisos, quando ele começou a falar que ia embora para Pernambuco porque lá, com certeza, iríamos ficar ricos. Nessa época, o filho da minha irmã mais velha estava morando comigo já fazia algum tempo. Era um dia de sábado e estávamos todos jantando, quando á Silvia derramou molho de macarrão na roupa. Dei banho nela e fui por o seu vestido de molho, no sabão. Estava no quintal lavando a roupa; quando meu sobrinho saiu e foi fazer alguma coisa, não lembro o quê. Percebi que, o meu marido estava me olhando, vigiando mesmo. Terminei de lavar o vestido e, quando entrei, ele já estava com a cara fechada e perguntou o que eu estava fazendo lá fora. Começou a falar que eu, estava tendo um caso com meu próprio sobrinho e queria saber por que estava no quintal junto com ele. Naquela noite não tive paz. No domingo, como sempre, fomos almoçar na casa dos pais dele: o clima não estava bom.

 No decorrer do dia, ele não dirigiu a palavra para o meu sobrinho. No final da tarde, quando chegamos em casa, pegou todas as roupas do menino rasgando uma por uma, jogou no quintal. Em seguida o expulsou de casa. Como ele ainda era menor de idade, pedi que fosse procurar meu irmão e ficasse na casa dele.Em menos de uma hora, o meu irmão e sua esposa chegaram á minha casa, junto com o meu sobrinho. O meu irmão foi saber o que havia acontecido; como o menino só tinha quinze anos de idade, estando sob nossa responsabilidade, ele, não podia ser tão incoerente jogando o menino na rua, era um absurdo. Mas ele não recebeu o meu irmão e nem se deu ao trabalho de sair ao portão. Quando todos foram embora, tomou uma garrafa inteira de aguardente, foi até o quarto pegou todas as minhas roupas, jogou no chão, pegou uma quantia em dinheiro e mandou que eu fosse embora. Falou que eu tinha uma hora para pegar minhas coisas e sumir dali. Foi, uma das noites mais difícil da minha vida.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ferias em Pernambuco....

Como em toda cidade do interior, a minha não poderia ser diferente: sábado era dia de feira, quando todos da redondeza ficavam aguardando para reverem uns aos outros, principalmente quem morava na roça. Naquele sábado, todos que estavam na casa da minha mãe foram à cidade, inclusive meu marido, meus filhos e eu. Fizemos compras para o batizado do meu afilhado que seria no domingo de manhã, encontrei algumas pessoas amigas que não via há muitos anos. Fui até a prefeitura com a minha irmã, cumprimentar o prefeito que foi diretor do colégio e meu professor de matemática durante quatro anos. Me senti uma criminosa, pois fomos escondidas. Fiquei refletindo sobre toda aquela situação. Para uma pessoa como eu, criada em liberdade, fazer qualquer coisa em segredo era muita humilhação. Meus pais sempre confiaram em mim. Naquele momento, sentia-me prisioneira de um homem que vivia controlando a minha vida, dizendo o que podia ou não podia fazer. Mas não conseguia me libertar, estava presa em nome de um amor doentio. Amor esse que aos pouco ia acabando com minha alegria de viver.Dando espaço a tristeza. Tristeza esse, que me obrigava a usar uma mascara para esconder a realidade. O sorriso surgia ao mesmo tempo que a lagrima, os dois deram inicio a uma longa caminhada. Tornando-se amigos inseparáveis.

 No final da tarde viemos embora. Na saída, passou um moço em uma moto, mas foi tão rápido que não percebi. A minha irmã falou que era o marido de uma colega do tempo do colégio; e meu marido, com seu ciúme possessivo, entendeu que era um ex-namorado meu. Daquele momento em diante, teve inicio minha dor de cabeça. Ele, como sempre, começou me atacar. Bastava um simples olhar para eu saber que não estava nada bem, que o motivo foi aquele motoqueiro, cujo único erro foi passar ali naquele exato momento, coitado! Nem sabia da minha existência. Chegando ao sitio, ele não me dirigiu mais a palavra e no domingo fomos para o batizado, afinal, éramos os padrinhos. Durante toda a cerimônia, ele não me olhou, não me dirigiu a palavra. Foi difícil suportar aquele clima pesado.

 Minha irmã e seu esposo perceberam sua indiferença, mas eu já estava acostumada com esse tipo de atitude. Era dolorido, mas já estava condicionada a aceitar tudo que ele fazia. Teve um almoço com vários convidados, tinha pessoas da família como também alguns vizinhos. No decorrer do dia fiquei com as crianças, fingindo que estava tudo bem, porque sabia que cada passo que eu dava, cada gesto que eu fazia, ele estava vigiando. Não podia permitir que as pessoas percebessem que meu casamento era um fracasso. Que na realidade era uma mentira. Sempre fingia, dava a entender que meu relacionamento era ótimo. E conseguia passar essa imagem para a maioria das pessoas, menos pra mim. Terminando as férias, voltamos para São Paulo. Tínhamos ido para Pernambuco de carro, mas quando chegamos a minha cidade, ele, resolveu vender o automóvel, por isso, voltamos de ônibus. Foi horrível! Três dias na estrada, sem nenhum conforto, dormindo dentro do ônibus com as crianças no colo. Agradeci a Deus quando chegamos à Rodoviária do Tiete.

sábado, 1 de junho de 2013

A Dor do Retorno....


Nasci em um lar humilde, no campo e sem conforto. Tive uma vida de sacrifícios, mas nunca presenciei uma discussão entre os meus pais. Sempre houve respeito entre eles e se acontecia alguma briga, os filhos nunca ficaram sabendo. Tudo era resolvido entre os dois, não existia plateia. Ao contrário da minha casa, que não se conhecia a palavra respeito. Como tudo estava bem na parte financeira, ele resolveu que iríamos passear em Pernambuco, pois queria conhecer minha cidade natal, Poção. Era o ano de 1986. Eu, estava voltando ao meu lar com um marido e duas crianças, uma de 4 e outra de 3 anos. A minha irmã Luiza tinha ganhado neném e nos convidou para sermos padrinhos da criança. Aproveitamos a oportunidade e fomos para batizar o bebê.

 Chegamos em Pernambuco foi tudo uma festa, todos alegre. Nós estávamos Sempre passeando, revendo os amigos que há muito tempo não os via, mas dentro de mim estava doendo muito a saudade do meu pai. Em cada lugar, em cada objeto, estavam as lembranças dele. Naquelas terras que ele cultivou, nas árvores que ele plantou e deram frutos, nas cercas que fez; todas as coisas que ali existiam me falavam dele. Daquele homem simples, honesto, digno de caráter, que trabalhou sua vida inteira para criar os filhos. Com suas mãos calejadas, não importava se chovia ou fazia sol, estava dando duro para não deixar faltar o necessário à sua família. Aquele pai sem estudo, mas com tamanha sabedoria. Sabedoria essa que adquiriu não nos livros e sim em sua trajetória de vida. Nos ensinou os verdadeiros valores da vida, o carater a honestidade  o respeito à dignidade, foi essa a verdadeira riqueza que ele nos deu.

 Fui obrigada a aceitar a realidade: ele não estava mais ali, tinha partido para não mais voltar e por mais forte que fosse a minha dor, teria que me conformar. E continuar com a minha vida. Teria que aprender a viver sem ele. De alguma forma, ainda tinha a ilusão de que o meu pai estaria lá, pelo fato de não ter participado do seu velório, do seu enterro. Por não ter estado presente e compartilhado a minha dor com os demais. Fui obrigada a sofrer sozinha e sufocar tudo que estava sentindo. E ainda ouvir que era a única responsável pela morte do meu pai, que por causa de mim meus irmãos estavam sem pai e minha mãe sem marido. Agora eu estava no lugar onde as lembranças eram mais presentes, pareciam estar vivas dentro de mim e mais uma vez eu teria que ser forte. Precisava ser forte para a minha sobrevivência.