domingo, 28 de abril de 2013

Segunda Gravidez....

Quando minha filha estava com cinco meses, descobri que estava grávida de novo. Como eu amamentava, acreditava que não corria risco. Imediatamente, ele me disse que não tinha chances dessa criança nascer. - Você vai ter que tomar remédio e dessa vez tem que ser da farmácia, exclamou. E eu disse tudo bem.

 Mesmo contra a minha vontade, por que eu não queria tomar nenhum remédio e mais uma vez arriscar a vida de uma criança, cometer mais uma tentativa de aborto  sim, eu já havia tentado abortar antes disso, sempre incentivada por ele. Também não tinha como dizer não a ele. Eu não sabia como fazer isso. E para que tudo corresse da melhor forma possível, eu precisava ser boazinha, ser obediente, por que era assim que ele gostava de mim. E por mais que eu estivesse agredindo a mim mesma, não tinha importância. O importante era agradá-lo, fazer tudo o que ele queria, sempre mandando e eu obedecendo.

 Ele chegou com algo que o farmacêutico passou. Tomei dois vidros e nada aconteceu. A minha criança sobreviveu e eu fiquei feliz. Eu não estava mais suportando conviver naquele ambiente de tanta discórdia. E talvez ele também gostasse da ideia de ficar a sós comigo. Eu só não sabia exatamente ainda o porquê, o que me aguardava naquele futuro próximo.

 Decidimos comprar um barraco na favela do Pixote, no Jardim Canhema, Diadema, para onde nos mudamos. Eu, grávida, aquela vida simples: chuva, enchente, barraco, alagado, brigas. Logo o marido aprendeu a fazer chantagem, ameaçar sair de casa toda vez que brigávamos. Eu com medo ficava apavorada. Não é redundância. Vivia com medo e outras tantas vezes também apavorada. Sozinha, com uma criança no colo e a outra na barriga, o que eu podia fazer? Eu implorava, chorava, pedindo para ele não ir embora. Não me dava conta de que isso alimentava sua maldade. Na verdade, ele ficava feliz em me ver sofrendo, chorando pelos cantos. Atirava na minha cara, todos os dias, que eu não prestava, que ate o meu pai eu tinha matado.

 E, cada vez mais, a revolta me consumia, a magoa aumentava, a tristeza tomava conta de mim passando a fazer parte da minha vida. Eram sentimentos que antes eu não conhecia. Fui criada no campo, correndo feliz sem maldade. O sorriso fazia parte do meu dia a dia. Eu sempre sonhei em ter alguém na minha vida que fosse ao mesmo tempo meu amigo e meu companheiro. Tinha um pai que me amava. Tenho uma lembrança dele que sempre me acompanha. Um dia, sai para buscar ingá, uma fruta de época lá no Nordeste. Estava ameaçando um temporal, mas, mesmo assim, não dei importância e subi no alto de uma árvore. Estava despreocupada quando a tempestade desabou e com o vento forte eu não podia desce. Estava apavorada sem saber o que fazer, quando ouvi a voz do meu pai. Ele estava ali para me proteger. Foi me buscar exposto aos raios, ventos e trovões daquela tarde, que ate hoje está viva nas minhas lembranças.

 Mas, agora, um dia era alegria, no outro, sofrimento. E assim a vida continuava. As dificuldades financeiras só aumentavam. Tinha dia que eu esperava ele me trazer um pedaço de carne dentro de um pão para poder almoçar. Passei todas as dificuldades que a vida possa oferecer ao lado de um homem, mas sempre estive firme ao lado dele, procurando economizar de todas as formas para contribuir. Mais nunca recebi uma palavra de agradecimento.

 E a minha barriga crescendo. Felizmente Silvia era um bebezinho que preenchia os meus dias. Era dela que eu tirava força para conseguir suportar as indiferenças que a vida e algumas pessoas me ofereciam. A minha família, como minha mãe e meu irmão, acreditavam muito nele. A errada era sempre eu. Então, falar pra quem? Ou para quê? Quem estaria disposto a me ouvir? Ninguém! Em um final de semana, como todos os outros, fomos pra a casa dos pais dele. Começou uma discussão e, como sempre, fui o pivô. Ele fechou a cara pra mim. Eu estava de cinco ou seis meses de gravidez. Saindo de lá, estava com a Silvia no colo e uma bolsa pendurada no ombro. Cena típica.

Como ele estava com raiva de mim, não me ajudou. Pelo contrário. Colocou o pé na minha frente para que eu caísse. Quanta maldade! – pensei. Mas, naquele momento de fragilidade, só pensava no que poderia ter acontecido com meus filhos. O impacto foi grande. Mais tarde, conversando com alguns psicólogos, me disseram que até corremos o risco de uma rejeição da parte da criança, ainda no útero.

domingo, 21 de abril de 2013

Conhecendo o Meu Bebê...

Só depois da visita que eu conseguir ver e amamenta o meu bebê, mas ela ainda estava um pouco inchada, roxa, afinal, estava passando da hora de nascer. Saiu da minha barriga e foi direto para o balão de oxigênio. Não sei dizer quanto tempo ficou lá. Naquela época a mulher ficava cinco dias na maternidade. E, mesmo quando recebi alta, me avisaram que a criança ficaria internada alguns dias.

 Foi difícil sair e deixar o meu bebê. Como fiz uma cesariana não podia ir ao hospital vê-la. O pai saía do trabalho ia direto visitá-la. E assim os dias se passaram. Uma semana depois, o pai chegou com o bebê. Não vou esquecer nunca aquele dia que eu a tomei nos braços. Ela era linda. O rostinho afilado, os olhos verdes, os cabelos loiros, era uma criança tão linda, e era minha filha. Estava comigo no meu colo e eu podia amamentá-la, podia dar banho, apesar da falta de experiência.

 Lembro do medo que tive no primeiro banho, os cuidados com o umbigo... Meu Deus! E trocar as fraldas?! Tinha medo de quebrar a coluna dela. Mais fui ganhando pratica e, no dia a dia, se tornou uma tarefa simples. A mulher trás com ela o dom de ser mãe, mesmo não tendo uma faculdade de mãe, mesmo não tendo nenhuma orientação, mesmo sentindo tanta insegurança. De repente, quando ela descobre que está grávida, que dentro dela esta sendo gerada uma vida, e que essa vida é parte dela, mesmo não sabendo de nada, se torna mãe. Sabia que ela estava a caminho e que, com sua chegada, uma grande responsabilidade também viria. E aprendi assim, tudo na raça. Pelo menos, foi assim comigo.

 Mas, o amor supera todo o medo, toda a insegurança. A mulher é forte. E muitas de nós só descobrem isso nesse momento. É quando provamos para nós mesmas que somos capazes de superar todos os obstáculos, por nós, e, algumas vezes, por eles: os filhos. Suportar os problemas de família era difícil. A minha cunhada, irmã do meu marido, estava grávida. Ganhou o neném dela três meses antes de mim. Eu ia todos os dias para a casa dela para ajudá-la, acreditando que quando chegasse a minha vez fariam o mesmo por mim. Enganei-me. Fui largada sozinha, operada, sem poder fazer quase nada.

 Na época, não existia fralda descartável, nem maquina de lavar. Muito menos secadora. Era tudo na mão. Mas, ainda assim, tudo seria ótimo se não fossem às brigas, a família interferindo em tudo e a falta de dinheiro. Eu morava no quintal da casa de meu irmão, que morava com a mulher. Eu, meu marido e a bebê morávamos em um cômodo. Era pequeno, mas a ideia era gastar menos possível para economizar. Mas, em nada adiantou. Sempre tinham brigas e mais brigas. A minha cunhada, junto com a família dele, sempre provocando e arrumando confusão. Tudo o que eu fazia era motivo para brigas. E também existiam as brigas com a minha cunhada, mulher do meu irmão.

 Lembro de uma vez em que a roupa estava estendida no varal e começou a chover. Saí correndo para recolhê-las, mas acabou ficando uma toalha de mesa. Na pressa, puxei e o prendedor que acabou caindo no chão. Não demorou muito para que ela chamasse o meu marido para mostrar o que tinha acontecido, alegando que eu tinha feito de pirraça e que ela não permitiria aquele tipo de desaforo no seu quintal. Até o meu irmão ficou sabendo do que aconteceu. Era insuportável conviver com ela também. Por qualquer motivo ela fazia um inferno da minha vida.

domingo, 14 de abril de 2013

Nascimento da Silvia...

No dia 18 de fevereiro de 1982, estando a situação um pouco difícil pelas brigas, acordei de manhã, fiz o café e ele saiu pra trabalhar. Mal se despediu de mim. Como tinha que ir ao médico e sabendo que ficaria internada, limpei a casa, lavei a roupa, fiz tudo que uma dona de casa deveria fazer, ou tudo o quê me foi ensinado como obrigação de uma mulher, tomei um banho e sai para a casa da mãe dele, porque a mesma tinha prometido que me acompanharia ate o hospital.
 No caminho, debaixo de um viaduto da Rodovia Imigrante, um lugar isolado, sem ter nada por perto, estava eu ali sozinha esperando o ônibus quando chegou uma viatura da Policia Militar. Vendo o meu estado se ofereceram para me acompanhar ate o hospital, como eu não aceitei eles ficaram comigo ate o ônibus passar.
 Chegando a casa da minha sogra ela disse que tinha muito o que fazer e não dava para ir comigo, chamando uma amiga dela para me acompanhar. Não tinha condições de negar nada. Fomos. Conversando, não me lembrei de perguntar seu nome, e na hora que o médico perguntou com quem eu estava não soube responder. Ele me autorizou a ir até a recepção e falar com ela. Fique internada como era previsto. Isso aconteceu às 11 horas da manhã.
 Fiquei no soro a tarde toda, não sentido dores o médico furou a minha bolsa, mesmo assim eu continuei sem dor. À meia-noite, entrou um médico, me examinou e me levou imediatamente para o centro cirúrgico. Eu estava perdendo o meu bebê, não sei bem o que aconteceu quando ela nasceu. Foi direto para o oxigênio. Fiquei sabendo que era um menina, de repente o efeito da anestesia passou e comecei a sentir dores. Foi quando me deram mais alguma coisa e aí eu apaguei. Me vi saindo do corpo e flutuando no quarto. Eu estava vendo tudo o quê aconteciam, os médicos, a enfermeira, mais não entendia o que estava acontecendo. Quando, de repente, me vi voltando para o meu corpo. Foi uma sensação tão estranha que nunca mais senti outra igual.

 Acordei no outro dia com o médico no meu quarto falando que a nenê estava no berçário e que não poderia ser trazida para mama naquele dia. Fiquei assustada, mas estava tão cansada e, com o efeito dos remédios, dormi o dia todo. Quando acordei já era hora da visita, o meu marido estava chegando com o pai dele e já tinham visto a minha filha.

domingo, 7 de abril de 2013

Primeira Gravidez..

E assim os dias iam se passando, os meses avançando, a minha barriga crescendo e eu acreditando que era feliz.
 Radiante com a chegada do meu bebê, morando no quintal do meu irmão, sabendo que não era bem vinda pela minha cunhada e o ciúme possessivo do meu marido iam me levando a uma tristeza, uma saudade da minha vida de solteira.
 Quantas vezes eu recebia cartas das minhas amigas, colegas de escolas lia e em seguida rasgava e jogava fora ele não podia saber que eu recebia noticias delas; e como eu não respondia as cartas aos poucos fui caindo no esquecimento, perdendo as amizades do passado as cartas já não chegavam mais; eu até gostava por que era um motivo a menos para as brigas, já não sentia o meu coração disparando de medo quando o carteiro passava.
 Quantas dias gravida, sozinha, chorando sentada em uma cadeira em posição de útero que ate hoje eu não entendo como eu conseguia era impossível com o tamanho da minha barriga; e, era assim que eu passava as minhas tarde.
 Lembro-me das ultimas semana de gravidez; como era difícil, dentro das nossas dificuldades, não tendo roupas o suficiente, eu só tinha uma calça e uma bata quando sugeri compra um vestido para ir ao medico, porque eu tinha que passar de uma sala para outra e o medico não me deixando por a roupa e eu envergonhada, com aquela sena ganhei de presente dois dias dormindo no chão, no dia seguinte fui para o hospital com alguém que eu nem a conhecia, no momento da internação eu nem sabia o nome dela para avisar a família.