domingo, 31 de março de 2013

Acreditando no Amor...

Em um único cômodo, que eu dividia em quarto e cozinha, levando aquela vida simples, os dias iam se passando. Quando menos esperava descobri que estava grávida. Ele sugeriu que eu tirasse a criança. Durante dez dias fui convencida a tomar chá de arruda com pinga.
  Eu era tão ingênua, tão sem maldade, que a palavra não nem conseguia pronunciar. Eu sentia medo dela. Fazia de tudo para agradar. Então, até esse chá eu tomava, mesmo sabendo que corria o risco de cometer um aborto, matar uma criança e, dentro da minha filosofia, me tornar uma assassina. Depois do décimo dia criei coragem e falei que não iria mais continuar tomando aquilo. Que não tinha coragem de matar a crianças que estava dentro de mim. Ele concordou e a mãe dele também.

As dificuldades financeiras começaram a aparecer. Morando de aluguel, só um trabalhando, os problemas só aumentavam. Sem falar na família dele que não me aceitava e fazia de tudo para nos separar. Como não éramos casados formalmente não tinha direito ao convênio médico. A única solução foi o casamento. Marcamos a data. Minha mãe veio toda feliz. Queria assistir à cerimônia do casamento da filha. Ela não sabia que já estávamos morando juntos e que eu estava grávida. Não fez nenhum comentário, me ajudou com todas as despesas, principalmente com o vestido de noiva.
 Ela, como sempre, ficou na casa do meu irmão, que foi um dos meus padrinhos de casamento. Houve uma cerimônia simples, sem festa, sem viajem, mais eu estava feliz. No meu mundo de fantasia eu me sentia em um castelo no qual eu era a rainha. Uma semana depois do casamento, brigas, torturas, ciúmes e agressões verbais. Ali eu percebi a bobagem que tinha feita da minha vida. Mas, naquela altura, não tinha como voltar atrás. Eu estava casada e com uma criança no ventre.
 Eu tinha aprendido que a mulher quando casa tem que aceitar tudo, tem que se submeter às vontades do marido. Eu tinha medo porque aquele homem que um dia pensei ser meu amigo, meu companheiro, meu cúmplice, estava muitas vezes se revelando meu inimigo. Mais, depois de agir dessa forma, no outro dia ele era bonzinho, carinhoso, compreensivo e até me deixava ver a novela.

domingo, 24 de março de 2013

Em Busca de Um Sonho...

Era 1980. Estava partindo de uma pequena cidade do interior de Pernambuco para a tão sonhada cidade de são Paulo. A cidade de Poção está á uma distancia de 250 quilômetros do Recife. Foi lá que eu vivi até os meus 23 anos. Onde nasci, cresci, brinquei, chorei, estudei e fiz amigos. Mas, larguei tudo e vim embora em busca de uma vida melhor e realizar o meu maior sonho: conhecer a terra da garoa, a famosa capital de São Paulo, sempre tão falada. Chegando à São Paulo o primeiro susto! Fui assaltada! Sinceramente não sabia o que era isso até então.
 Fui criada em uma cidade calma onde todos se conheciam e onde não existia violência. Para mim foi uma surpresa. Dois dias depois da minha chegada recebi a noticias da morte de meu pai, um dos maiores golpes que recebi da vida. Em uma cidade desconhecida, longe de casa, convivendo com pessoas desconhecidas, confesso que foi difícil.
 Meu pai aquele homem meio rude, com 60 anos, que me amava muito. Eu era a sua filha predileta. Tudo ele fazia por mim. E eu, na cidade grande, acusada de ser a responsável por sua morte. Carreguei por quinze anos essa culpa. Tive que me fazer de forte para sobreviver. Consegui um trabalho e dei continuidade a minha vida.

Passado quase um ano da minha chegada conheci um rapaz. Começamos a namora e logo nos apaixonamos. Dias depois fiquei desempregada e como estava difícil de conseguir emprego devido às greves que estavam acontecendo no ABC, em 1981, decidi voltar para minha terra. Ele não aceitou a minha decisão e encontrou uma solução para o nosso problema: me pediu em casamento. Eu logo aceitei. Três meses depois estávamos morando juntos. Tudo parecia um sonho! Eu na minha casinha me sentia a mais feliz das mulheres. Só que nem tudo é um mar de rosas. Ele começou a se revelar um pouco agressivo, mais eu sempre acreditava que tudo ia passar. Que era ciúmes, e que ciúmes era amor.
 Naquele tempo, isso até me deixava feliz. Acreditava que era amada. Não queria mais nada. Quantas vezes fui agredida quando ele, segurando-me pelos cabelos, me obrigava a falar quantos homens eu tive antes dele? Quantas vezes eu fiquei sozinha chorando pela maneira como eu era tratada, quando ele saia para trabalhar? Mais à noite, quando ele chegava, eu me esquecia de tudo. E mais uma semana de felicidade se passava até ele agir de novo. Era assim que eu vivia.

sábado, 16 de março de 2013

Sou uma mulher feliz..

Hoje, sou uma mulher feliz. Diferente daquela mulher de onze anos atrás que vivia de migalhas, concordava com tudo que diziam e falavam ao meu respeito. Parei. Busquei ajuda. Recuperei a minha autoestima, comecei a gostar de mim.

 Hoje, sou feliz e descobrir que a verdadeira felicidade está dentro de mim. Descobri que ser feliz não é ter uma vida tranquila, sem problemas, por que os problemas existem e vão continuarem existindo. Ser feliz é enfrentar a vida de cabeça erguida, é ser forte, é saber sorrir, é ter liberdade, é ter amor a vida, é poder viver sem cobrança, é poder ajudar alguém sem medo, ser feliz é reconhecer que vale apena viver, a pesar de todas as perdas, é deixar de ser vitima dos problemas, é sorrir para a vida mesmo quando ela esta chorando pra você. Ser feliz é ser verdadeiro é ter amigos.
 Hoje eu não uso mascaras. Procuro viver uma vida transparente, passo para as pessoas aquilo que realmente sou. Sinto-me uma mulher bem sucedida, por que gosto do que eu faço, superei todas as dificuldades que a vida me ofereceu. Hoje vejo que tudo que passei serviu para o meu crescimento, como pessoa e como mulher!
 Hoje, vejo a vida de uma maneira diferente, não reclamo; não choro mais por qualquer motivo, e descobri que tudo tem um sentido, e que de tudo que passamos podemos tirar como uma lição de vida, hoje eu recebo como um grande aprendizado tudo que eu vivi tudo que eu passei. Foi um grande presente do Universo. A minha vida, a minha historia.

domingo, 10 de março de 2013

Este blog é para todas as mulheres que, como eu, sofreram ou sofrem violência doméstica. Durante vinte e um anos da minha vida eu fui violentada psicologicamente pelo meu marido. Mas eu não tinha coragem de dar um basta na situação, acreditando que era incapaz de seguir em frente sozinha. E, me sentindo merecedora de tudo que ele fazia comigo, fui perdendo a minha autoestima, o meu respeito como pessoa e como mulher.
 Aos pouco estava perdendo a dignidade porque todos os dias ele me agredia, e eu permitia, consciente de que estava preservando um lar para os meus filhos. Mais que lar? Não existia amor, harmonia, não tinha paz, não tinha respeito. Meus filhos estavam sendo criados em um lar sem estrutura. Sem nenhuma formação psicológica, cada dia que passava eu ia perdendo o meu equilíbrio, o ódio, o ressentimento e a revolta estavam tomando conta de mim. Estávamos nos afastando cada vez mais. Estávamos nos levando a uma realidade contrária a de um verdadeiro relacionamento.
 As agressões verbais cada vez mais constantes. E eu, consciente ou inconscientemente, estava passando para os meus filhos tudo o que eu vivia. Correndo o risco de seguirem por caminhos inadequados que o mundo oferece. Mais Deus na sua infinita misericórdia os protegeu não permitindo que eles fossem levados ao precipício que a vida os oferecia. Mesmo dentro de toda dor que eu sofria a minha maior preocupação era eles.
 Hoje, eu entendo por que a mulher se submete a viver violentada pelo companheiro. O medo da falta de um prato de comida para os filhos, de um teto para morar. A pressão psicológica não a deixa raciocinar, levando-a a acreditar na sua incapacidade como mulher, não tendo conhecimento da força que existe dentro dela, da guerreira que ela é. Por isso, muitas vezes se submete a tal chamada violência domestica, por ainda não saber que é capaz de conseguir sobreviver sozinha, sem depender de um homem. 
 Hoje eu descobrir a capacidade que tenho para voar. E eu sou capaz de chegar ao mais alto do cume. Sem perder o meu respeito, sem perder a minha dignidade. Por este motivo que resolvi criar este blog: para ajudar todas as mulheres que passam por este drama.