domingo, 25 de agosto de 2013

Voltando de Salvador....

Uma senzala cruel, que machuca, que oprime, que aos pouco foi me diminuindo, tirando a minha auto-estima me levando á acreditar na minha incapacidade, mexendo com o meu psicológico fazendo com que eu acreditasse que era merecedora de tudo que ele fazia comigo. E naquele momento sozinha com os meus pensamentos lembrei-me daquela escrava com o seu filho no colo assustada. Em alguns momentos da minha vida me senti como ela.

 ( Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto o braseiro, no chão. Entoa o escravo o seu canto. E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão… De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava. Que tem no colo a embalar… E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde. Talvez, pra não o escutar!)

 Ali, perdida em meio, aos meus pensamentos; não percebi o tempo passar, e, quando dei por mim, já era hora de voltar para a minha senzala, mais nessa senzala tinha algo de bom me esperando, os meus filhos e era por eles que eu sempre voltava. Algumas vezes tive vontade de ir embora, mas sentia medo, me achando incapaz de viver sozinha com os meus filhos, não tinha condição financeira. Não me sentia mulher o suficiente para assumir tamanha responsabilidade.E por esse motivo me sentia obrigada a continuar ao lado daquele homem.

 Sai caminhando até a Rodoviária com os passos lentos e o pensamento longe, sentindo saudade da minha terra, e refletindo sobre a minha vida. Tomei o ônibus e fui embora. Cheguei um pouco tarde ele não me dirigiu a palavra, as crianças, como sempre correram ao meu encontro e naquele momento eu esqueci tudo que aconteceu. As humilhações que eu passava ao lado dele, todo o meu sofrimento era recompensado com sorriso dos meus filhos.

 Dia 07 de setembro. Comemoração da Independência do Brasil. A Silvia estava radiante, vestida de princesa o Silvio saiu com os trajes de índio, os dois estavam lindos. O meu marido se comportava como se nada tivesse acontecido; saiu vestido de palhaço, feliz alegrando a todos, eu estava feliz, parecíamos uma família de verdade. Era sempre assim quando estávamos em publico, conseguimos passar para todos; a imagem de um casal feliz. Mas quando chegávamos á nossa casa, a realidade era outra.

domingo, 18 de agosto de 2013

Continuando na Bahia...

Os dias foram passando e os meses também. A vida conturbada continuava, as lagrimas não cessavam, naquela vida triste de trabalho árduo, sempre dentro de um ônibus fazendo às regiões próximas a cidade de Candeias; carregando uma sacola pesada. O sol forte, a pele queimada, uma tristeza no olhar, muitas vezes tentando esconder a realidade. Quanta vezes sorria para não chorar, ou afastando as pessoas de mim sendo rude, ou mesmo agressiva; eu acreditava que sozinha no meu mundo, talvez sofresse menos.

 Um dia a Silvia chegou com um recadinho da professora solicitando a minha presença na escola, fiquei me perguntando o que ela teria aprontado? No dia seguinte compareci a escola e a professora me falou. Como estava se aproximando o mês de setembro, e com a comemoração do feriado do dia 07 ela escolheu a Silvia para desfilar como princesa e seria necessário compra o vestido dela, e me avisou; que eu só encontraria o tecido na Capital.

Fiquei apreensiva nunca tinha ido sozinha á Salvador, minha reação foi falar com ele, e perguntar se ele iria comigo? Porque eu não conhecia a cidade, afinal ele era o meu marido e pai dos meus filhos. A resposta dele foi não! E já começou uma briga, dormimos separados naquela noite e nas duas noites seguidas pelo fato de eu o ter chamado para ir comigo.

 Mais no dia seguinte eu fui até Salvador e chegando lá descobri que pessoas maravilhosas são os baianos, me deram todas as informações que eu pedia, conseguir chegar ate o lugar que eu precisava ir, comprei tudo que eu necessitava; entrei em uma lanchonete tomei um lanche fui até a Praça Castro Alves. Lugar que me trouxe muitas recordações de quando era uma adolescente época do colégio nas comemorações do dia 7 de setembro eu sempre era escolhida para falar de alguém importante na Historia do Brasil, automaticamente eu escolhia o grande poeta Castro Alves. Pelos seus poemas, pela sua luta em defesa da escravidão.

E naquela tarde; debruçada no muro daquela praça cujo nome dedicado ao meu grande herói. Contemplando aquele Mar imenso á minha frente lembrando o tempo que eu era feliz, me sentia alguém, vivendo na casa dos meus pais, estudando, trabalhando, podendo ri brincar ou mesmo chorar. Eu era dona de mim. Hoje me sentindo escrava de um marido que me dominava com o seu jeito cruel e ainda deixava as pessoas e a minha família entender que eu não era uma boa mãe, muito menos uma boa esposa.
 Lembrei-me do livro. Os Escravos. Que sempre foi um dos meus preferidos. E uma canção que me chamava atenção era a. Canção do Africano. Eu me sentia na senzala como aquela escrava; chorei me perguntando. Será que, se o Castro Alves estivesse aqui hoje não faria um poema falando da senzala dos brancos? Porque eu faço parte dessa senzala.

domingo, 11 de agosto de 2013

Morando na Bahia...

Ao chegar á Bahia, ele decidiu junto com a minha irmã e o marido dela, que o ideal seria ficar lá; comprar uma casa, me buscar em Pernambuco, e tentar conseguir um trabalho. Passado alguns dias ele chegou com o meu cunhado para me levar. Fomos direto para a casa da minha irmã, afinal ela e o marido queriam que nós ficássemos morando lá, na época.
Fomos bem recebidos apesar da casa dela ser pequena, e com a chegada de mais quatro pessoas, não faltou nada durante a nossa estadia. Ele vendeu o carro e com o dinheiro comprou uma casa, mas como tínhamos deixado a mudança em Pernambuco, tivemos que ficar na casa vazia sem os moveis, não foi fácil; mais como sempre conseguimos superar as dificuldades, afinal já tínhamos nos acostumado com os altos e baixos da vida.
 Um mês depois ele conseguiu um caminhão e junto com o meu cunhado foram buscar a nossa mudança em Pernambuco. Depois que os moveis chegou coloquei a casa em ordem, procurei escola para as crianças, como tudo estava resolvido. Decidimos que eu iria trabalhar, e resolvemos que seria com vendas, iríamos ter o nosso próprio negocio.
 A minha irmã, como já morava na cidade e conhecendo muita gente nos ajudou no inicio apresentando algumas pessoas. O povo da Bahia é um povo muito acolhedor são pessoas lindas, eu me identifiquei muito com eles, e como eu sempre fui uma boa vendedora, comecei a trabalhar com renascença uma renda típica do Nordeste. Ela teve inicio na minha cidade. Por mais que determinem outros estados ou Cidades como Pesqueira! A origem foi a Cidade de Poção. De lá saiu os primeiros trabalhos; hoje esta renda espalhou-se por todo o Nordeste. E foi com este produto que demos inicio a um trabalho na Cidade de Candeias e região, estávamos vendendo bem, conseguindo uma boa caderneta de clientes ele viajava para Poção de quinze em quinze dias para fazer compras.
 A situação financeira estava melhorando, as crianças estudando, eu tinha até uma pessoa em casa que me ajudava nos serviços domésticos. Mais as brigas, a falta de respeito, as humilhações continuavam; a sensação é que nunca acabaria que aquela situação seria para sempre. Ele começou a jogar a minha irmã contra mim, falando que ela estava aconselhando-o a ter uma amante e chegou a apresentar uma amiga, isso me deixou louca de raiva queria matar a minha irmã, não sei se era verdade nunca perguntei pra ela.
 Como eu era uma pessoa revoltada cheia de magoa e ressentimento trazia na minha expressão todo aquele sentimento de amargura todos me julgavam, enquanto ele apresentava-se como uma pessoa calma equilibrada e dona da verdade; conquistava a minha família com uma facilidade. Quando ele me tratava bem, eu esquecia tudo que tinha acontecido de ruim, e começava a criar expectativa de um futuro melhor. Voltava a sorrir imaginando que um dia iria conhecer a paz! Que eu tanto desejava...

domingo, 4 de agosto de 2013

Morando em Poção...

Apesar de tudo que aconteceu em relação ao comportamento dele com a minha irmã, quando íamos á casa da minha mãe, ele se comportava como se nada tivesse acontecido. Como se ele não a tivesse tratado com tanta grosseria. Eu ficava observando aquele comportamento absurdo, ele foi tão hostil com a minha irmã quando ela esteve em nossa casa, e na casa dela, ele agia com tanta naturalidade, sinceramente não conseguia entender era inacreditável.
 Não conseguindo trabalho em Caruaru; ele começou a trabalhar com o pai vendendo roupas, os dois viajavam nos finais de semana para as cidades próximas; fazendo feira era uma vida sacrificada sem conforto, diferente da qualidade de vida que nós tínhamos em São Paulo. Não demorou muito o dinheiro foi acabando e o que ele ganhava mal dava para as despesas, eu não estava feliz, sentia saudade de são Paulo, sempre falava em voltar mais ele não queria estava no meio da família e era tudo que ele desejava.
 Mas a falta do dinheiro fez com que ele percebesse que os primos estavam se afastando, já não o convidavam com a mesma freqüência, porque ele não tinha como pagar as despesas dos amigos. Um dia ele chegou pra mim, e perguntou se eu queria ir morar em Poção a minha cidade natal aceitei imediatamente seria uma forma de me afastar daquele pessoal...
 Fomos para a casa da minha mãe ficamos alguns dias. O meu Professor de matemática e Diretor do Colégio onde eu estudei era o Prefeito da Cidade, sabendo da nossa situação, nos ofereceu uma das suas casas, na qual só pagaríamos a água e a luz, ele aceitou, mudamos de imediato.

 Como não tinha trabalho para ele eu comecei a fazer blusas de tricô para vender, ajudando nas despesas da casa, em um dia e meio eu conseguia fazer uma blusa, não faltava encomendas, por ser uma cidade muito fria e não tinha quem soubesse fazer tricô todos me procuravam. Ele começou a me ajudar nos afazeres da casa para eu ter tempo de atender as minhas clientes.

 Mas ele não estava se sentindo bem com a situação sempre gostou de trabalhar, na verdade sentia-se humilhado, por não esta fazendo alguma coisa que lhe rendesse dinheiro; poderia ter todos os defeitos mais sempre assumiu as despesas da casa. Ele resolveu construir uma casa no terreno da minha mãe, por algum motivo se desentendeu com o meu cunhado e parou com a construção. Não sabendo mais o que fazer, e com certeza percebendo o seu erro em ter saído de São Paulo.

 Perguntou o que eu achava dele ir para a Bahia ver o que poderia conseguir por lá? Eu concordei! Nada estava dando certo em Pernambuco; quem sabe na Bahia, poderia existir á possibilidade de uma vida melhor? Ele viajou para candeias, e eu fiquei com as crianças em Poção.