domingo, 29 de setembro de 2013

O Silvio Vencendo o Seu Primeiro Desafio

Como a perna dele não tinha circulação, a medica internou imediatamente e já mandou enfaixar para aquecer e erguer o membro para facilitar a circulação. Como não tínhamos convenio medico foi tudo particular, a internação na enfermaria sairia bem mais em conta do que em um quarto particular, só que ele não tinha direito a um acompanhante eu só poderia ficar do meio dia até as 20:00h.

 Não foi fácil deixar o meu filho sozinho naquele hospital, sair chorando as escondidas não queria que ele percebesse. Mas ele sentiu que eu estava indo embora e começou a chorar e gritar por mim, foi um dos momentos mais difícil da minha vida, parecia que aquele corredor não tinha fim. Pela primeira vez fui obrigada a ficar longe do meu filho deixando-o sozinho doente em um hospital sem saber como ele seria tratado, ou o que poderia acontecer durante a noite. E nessa hora eu sentir o meu coração partir, mais não podia fazer nada! E nesse momento eu percebi o tamanho da minha pequenez. Eu sentir o quanto eu era impotente.

 Ao chegar á casa foi buscar a Silvia que estava na casa da vizinha cuidei dela, dei banho, depois coloquei na cama; fiquei ali parada olhando a cama dele vazia, com o coração apertado parecia que eu estava ouvindo a voz dele me chamando. Eu não conseguir dormir não via a hora de amanhecer o dia, e poder voltar para voltar ao hospital e saber noticias do meu filho. Eu não podia entra, mas só de poder esta ali pertinho já me deixava tranquila.

 Dois dias depois que o Silvio estava internado a Pediatra dele nos chamou para apresentar o chefe da Ortopedia e dizer que o caso dele não era mais com ela e sim com a equipe dele. Que ela tinha se antecipado ao dar o diagnostico. O que ele tem é uma doença chamada Osteomielite uma infecção no osso da perna, e vai ter que operar, para fazer a limpeza, que só a medicação não resolveria. E a cirurgia foi marcada.

 Eu parecia uma louca não dormia, não me alimentava direito, ficava o dia inteiro no hospital a Silvia largada, cada dia na casa de alguém diferente, a tia a vizinha. A minha vida passou a ser dividida entre os dois, mas eu olhava para o Silvio e via que naquele momento ele precisava mais de mim do que ela. Chegou o dia da cirurgia fiquei plantada na porta do centro cirúrgico esperando o meu filho. Horas depois saíram com ele; e levaram para o quarto antes de passar o efeito da anestesia. Só que quando ele foi voltando começou a apresentar reação, teve uma parada cardíaca eu só via os médicos desesperados naquele quarto tentando reanimar o meu filho que só tinha 7 anos, estava indo embora.

domingo, 22 de setembro de 2013

A Doença do meu Filho...

Era um dia de sábado, o meu marido mandou que eu arrumasse as crianças para irmos a uma exposição de animais no Parque da Água Funda, ele queria sair um pouco, levar as crianças para brincar e ver o gado, cavalos; dei banho, troquei os dois me arrumei e fomos. Naquele dia as crianças não pararam de correr, brincavam subindo e descendo as escadas, aproveitaram bem o dia, chegamos já era tarde por volta das 20:00h. Como eles estavam cansados tomaram banho, jantaram e foram pra cama.

 No dia seguinte o Silvio acordou com uma dor na perna eu dei um AS infantil e o coloquei de volta na cama, acreditando ser resultado do cansaço do dia anterior. Mas no decorrer do dia ele continuou reclamando com dor na perna, na segunda feira ele não conseguiu ir para a escola, eu o levei ao medico. O medico examinou e em seguida pediu para que ficássemos observando a temperatura dele de duas em duas horas, ele queria saber se o Silvio apresentaria febre, mas não falou o que ele tinha, ficamos observando, mas ele não apresentava temperatura alta, a dor da perna continuava. Nós o levamos ao medico todos os dias durante uma semana.

 No domingo eu estava fazendo o almoço o Silvio deitado na cama gritando de dor, eu já não sabia mais o que fazer. Quando chegou um casal amigo o Gilson e a Dorinha. Eu olhei e falei visita! Hoje não. Eu não tinha condições de receber ninguém naquele dia. Não; depois de uma semana com meu filho gritando de dor. Só que eu não sabia que eles estavam chegando para nos ajudar, os dois foram anjos enviados por Deus. Porque nós não tínhamos a menor idéia do que estava acontecendo com o nosso filho.

Mas o Gilson vendo o estado do Silvio ligou imediatamente para a pediatra do filho deles falou com ela e em seguida já levamos o Silvio para o hospital, ela o examinou, medicou e mandou pra casa, diagnostico. Reumatismo no Sangue eu fiquei apavorada nem sabia o que era isso, mais para ajudar alguém falou que era um tipo de câncer. A dor passou mais a perna dele não apresentava nenhuma circulação e começou a inchar e ficar vermelha, voltei com ele para o hospital, só que dessa vez ele ficou internado.


domingo, 15 de setembro de 2013

Morando em um Barraco

Lembro-me perfeitamente do lugar, eram dois cômodos e um banheiro uma verdadeira bagunça não tinha piso, a cobertura foi feita de telhas, as paredes de blocos, sem rebocos. E foi neste lugar que eu fui morar, sem nenhum conforto; não tinha quintal era tudo terreno, quando chovia mal dava para saímos de dentro da casa, isso é se podíamos chamar de casa? Seria mais adequado chamar de barraco.

 Aqueles dois cômodos foram construídos no lugar mais alto do terreno, fazia muito frio, o telhado sempre ameaçava voar com a força do vento. Vivendo naquele lugar precário, ao lado de uma favela. Matriculei as crianças na escola e como sempre, continuei na minha vinda simples de dona de casa passei a viver de  pia, fogão e tanque. Não reclamava apesar de todas as dificuldades que eu passava junto com as agressões que eu sofria. Lembro-me de quando a minha mãe vinha nos visitar ela não falava nada, mas o seu olhar em volta daquele barraco expressava sua decepção em ver o lugar onde sua filha morava.

 Com o passar do tempo ele foi tentando melhorar aquele barraco, colocou piso, jogou um cimento no quintal passou massa nas paredes, tampou os buracos para diminuir a passagem do vento, e aquecer o ambiente; tornar o lugar um pouco mais agradável. Continuamos vivendo a nossa vida, mas o pai dele resolveu ir morar dentro do mesmo terreno que nós, estávamos morando. E com a chegada da família a situação só vieram á piorar, as brigas passaram á ser com mais freqüência, ele passou a me maltratar mais ainda.

 As minhas crianças não tinham liberdade á prioridade era sempre dos filhos da irmã dele, os meus filhos ficavam sempre em segundo plano. E para complicar a situação o Silvio teve uma doença que quase o levou á morte. Foram três anos de tratamento.

domingo, 8 de setembro de 2013

Contemplando a Beleza de São Paulo...

Meu Deus! Parecia um sonho eu estava em São Paulo, era tudo que eu desejava. Sonhei tanto com esse momento. E agora eu estava ali, era real. Eu sentia toda a energia boa que a Cidade me oferecia e oferece até hoje. Era muita emoção, eu tinha algo com aquele lugar que não sabia explicar. Conforme estávamos indo para á casa da irmã do meu marido, eu admirava a paisagem, os predios, as praças, não queria perder nada, observava tudo como se fosse á primeira vez que estava contemplando toda a sua beleza.

 Ele estava na casa de irmã junto com o pai e a mãe que tinham voltado de pernambuco antes de nós, com a minha chegada algumas coisas mudaram, ele comprou um carro e começou a trabalhar por conta, ficamos na casa da irmã dele; foi uma época complicada não encontrávamos casa para alugarmos, como a família dele não gostava de mim, a situação não era boa, cara feia, indiretas, brigas por causa das crianças, e eu tinha que aguentar tudo, e sem reclamar afinal eu quis voltar. Muitas vezes ao chegar a casa não tinha mais comida eles já tinham jantado e lavado toda a louça as panelas já estavam guardadas, e nós éramos forçados a sair para comer alguma coisa na rua. Quantas vezes eu dava frutas para as minhas crianças que eu tinha comprado e jogava a casca fora para evitar confusão.

Algumas vezes me perguntei como fui capaz de permitir tanta humilhação? Como fui covarde dando poder de decisão sobre a minha vida para pessoas que não gostavam de mim. Quando os maiores prejudicados foram os meus filhos. Para eles comerem uma banana eu tinha que perguntar se podia? Mesmo sendo o pai deles que havia comprado. Ele e a família tinham um poder de manipulação sobre mim inacreditável.

procuramos casa para alugar mas não conseguimos, depois de 2 mesês fomos morar em uma construçao de um amigo dele, não tinha conforto mas eu fiquei um tempo em paz. Como ele precisava de mim, porque a  família dele praticamente nos expulsou, ele estava com vergonha e ficou um tempo afastado e me tratando bem. Naquela construção eu usava dois cômodos um fiz o dormitório, o outro á cozinha, lavava roupa na pia do banheiro, como eu conseguia não me pergunte?
 Ficamos naquele lugar uns 4 meses sem conseguir casa, estava uma crise na época ninguém conseguir alugar nada, de repente ele recebeu uma proposta. O genro do dono da construçao onde nós estávamos morando tinha um terreno e precisava de um caseiro porque já estavam ameaçando invadirem o terreno dele. Então ele perguntou para o meu marido se ele queria ficar morando nesse terreno como caseiro? Ele aceitou na hora construiu dois cômodos, E mudamos imediatamente




domingo, 1 de setembro de 2013

Voltando para São Paulo.

Era uma realidade bem diferente, daquela que tentávamos passar para as pessoas que viviam ao nosso redor. o sorriso já não fazia mais parte de mim, era substituído pelas as lagrimas. As brigas surgiam com mais frequência, as agressões verbais cada dia que passava eram mais intensa, onde um queria destruir o outro. E os mais prejudicados eram as crianças que presenciavam tudo, assustados sem entender o que estava acontecendo.

Um dia o irmão dele chegou a nossa casa sem avisar, como ele era caminhoneiro e viajava muito para o Nordeste, em uma das suas viagens ele resolveu nos visitar, eu fiquei muito feliz com a presença dele e comecei a incentivar o meu marido a ir embora com ele para São Paulo, ele resistiu um pouco mais o convenceu. E no final da tarde daquele mesmo dia, eles partiram com destino a São Paulo.

Eu fique com as crianças. e no dia seguinte já comecei a trabalhar com o objetivo de ir embora o mais rápido possível, antes que ele desistisse de ficar em São Paulo e voltasse para a Bahia. Coloquei a casa, á venda. Recebi todo o dinheiro que os clientes me deviam, de alguns peguei cheques, e em 15 dias vendi a casa, desmontei  todos os moveis e providenciei tudo para a minha viagem, fiz tudo sozinha nem sei como conseguir, foi inacreditável; mas a vontade de voltar era tanta que eu não via as dificuldades. Comprei as passagens e aguardei o grande dia.

Finalmente chegou o dia tão esperado. Voltar para São Paulo não sabia o que me esperava, mas era tudo que eu queria. desejei muito esse momento, lutei por ele durante todo tempo que morei no Nordeste. E foi com alegria que fui para Salvador, tomei  aquele ônibus mesmo sabendo que passaria dois dias na estrada com as crianças. Foi difícil mais conseguir  chegar. E lá estava ele me esperando. No Terminal Rodoviário do Tiete.  

domingo, 25 de agosto de 2013

Voltando de Salvador....

Uma senzala cruel, que machuca, que oprime, que aos pouco foi me diminuindo, tirando a minha auto-estima me levando á acreditar na minha incapacidade, mexendo com o meu psicológico fazendo com que eu acreditasse que era merecedora de tudo que ele fazia comigo. E naquele momento sozinha com os meus pensamentos lembrei-me daquela escrava com o seu filho no colo assustada. Em alguns momentos da minha vida me senti como ela.

 ( Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto o braseiro, no chão. Entoa o escravo o seu canto. E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão… De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava. Que tem no colo a embalar… E à meia voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde. Talvez, pra não o escutar!)

 Ali, perdida em meio, aos meus pensamentos; não percebi o tempo passar, e, quando dei por mim, já era hora de voltar para a minha senzala, mais nessa senzala tinha algo de bom me esperando, os meus filhos e era por eles que eu sempre voltava. Algumas vezes tive vontade de ir embora, mas sentia medo, me achando incapaz de viver sozinha com os meus filhos, não tinha condição financeira. Não me sentia mulher o suficiente para assumir tamanha responsabilidade.E por esse motivo me sentia obrigada a continuar ao lado daquele homem.

 Sai caminhando até a Rodoviária com os passos lentos e o pensamento longe, sentindo saudade da minha terra, e refletindo sobre a minha vida. Tomei o ônibus e fui embora. Cheguei um pouco tarde ele não me dirigiu a palavra, as crianças, como sempre correram ao meu encontro e naquele momento eu esqueci tudo que aconteceu. As humilhações que eu passava ao lado dele, todo o meu sofrimento era recompensado com sorriso dos meus filhos.

 Dia 07 de setembro. Comemoração da Independência do Brasil. A Silvia estava radiante, vestida de princesa o Silvio saiu com os trajes de índio, os dois estavam lindos. O meu marido se comportava como se nada tivesse acontecido; saiu vestido de palhaço, feliz alegrando a todos, eu estava feliz, parecíamos uma família de verdade. Era sempre assim quando estávamos em publico, conseguimos passar para todos; a imagem de um casal feliz. Mas quando chegávamos á nossa casa, a realidade era outra.

domingo, 18 de agosto de 2013

Continuando na Bahia...

Os dias foram passando e os meses também. A vida conturbada continuava, as lagrimas não cessavam, naquela vida triste de trabalho árduo, sempre dentro de um ônibus fazendo às regiões próximas a cidade de Candeias; carregando uma sacola pesada. O sol forte, a pele queimada, uma tristeza no olhar, muitas vezes tentando esconder a realidade. Quanta vezes sorria para não chorar, ou afastando as pessoas de mim sendo rude, ou mesmo agressiva; eu acreditava que sozinha no meu mundo, talvez sofresse menos.

 Um dia a Silvia chegou com um recadinho da professora solicitando a minha presença na escola, fiquei me perguntando o que ela teria aprontado? No dia seguinte compareci a escola e a professora me falou. Como estava se aproximando o mês de setembro, e com a comemoração do feriado do dia 07 ela escolheu a Silvia para desfilar como princesa e seria necessário compra o vestido dela, e me avisou; que eu só encontraria o tecido na Capital.

Fiquei apreensiva nunca tinha ido sozinha á Salvador, minha reação foi falar com ele, e perguntar se ele iria comigo? Porque eu não conhecia a cidade, afinal ele era o meu marido e pai dos meus filhos. A resposta dele foi não! E já começou uma briga, dormimos separados naquela noite e nas duas noites seguidas pelo fato de eu o ter chamado para ir comigo.

 Mais no dia seguinte eu fui até Salvador e chegando lá descobri que pessoas maravilhosas são os baianos, me deram todas as informações que eu pedia, conseguir chegar ate o lugar que eu precisava ir, comprei tudo que eu necessitava; entrei em uma lanchonete tomei um lanche fui até a Praça Castro Alves. Lugar que me trouxe muitas recordações de quando era uma adolescente época do colégio nas comemorações do dia 7 de setembro eu sempre era escolhida para falar de alguém importante na Historia do Brasil, automaticamente eu escolhia o grande poeta Castro Alves. Pelos seus poemas, pela sua luta em defesa da escravidão.

E naquela tarde; debruçada no muro daquela praça cujo nome dedicado ao meu grande herói. Contemplando aquele Mar imenso á minha frente lembrando o tempo que eu era feliz, me sentia alguém, vivendo na casa dos meus pais, estudando, trabalhando, podendo ri brincar ou mesmo chorar. Eu era dona de mim. Hoje me sentindo escrava de um marido que me dominava com o seu jeito cruel e ainda deixava as pessoas e a minha família entender que eu não era uma boa mãe, muito menos uma boa esposa.
 Lembrei-me do livro. Os Escravos. Que sempre foi um dos meus preferidos. E uma canção que me chamava atenção era a. Canção do Africano. Eu me sentia na senzala como aquela escrava; chorei me perguntando. Será que, se o Castro Alves estivesse aqui hoje não faria um poema falando da senzala dos brancos? Porque eu faço parte dessa senzala.