domingo, 11 de agosto de 2013

Morando na Bahia...

Ao chegar á Bahia, ele decidiu junto com a minha irmã e o marido dela, que o ideal seria ficar lá; comprar uma casa, me buscar em Pernambuco, e tentar conseguir um trabalho. Passado alguns dias ele chegou com o meu cunhado para me levar. Fomos direto para a casa da minha irmã, afinal ela e o marido queriam que nós ficássemos morando lá, na época.
Fomos bem recebidos apesar da casa dela ser pequena, e com a chegada de mais quatro pessoas, não faltou nada durante a nossa estadia. Ele vendeu o carro e com o dinheiro comprou uma casa, mas como tínhamos deixado a mudança em Pernambuco, tivemos que ficar na casa vazia sem os moveis, não foi fácil; mais como sempre conseguimos superar as dificuldades, afinal já tínhamos nos acostumado com os altos e baixos da vida.
 Um mês depois ele conseguiu um caminhão e junto com o meu cunhado foram buscar a nossa mudança em Pernambuco. Depois que os moveis chegou coloquei a casa em ordem, procurei escola para as crianças, como tudo estava resolvido. Decidimos que eu iria trabalhar, e resolvemos que seria com vendas, iríamos ter o nosso próprio negocio.
 A minha irmã, como já morava na cidade e conhecendo muita gente nos ajudou no inicio apresentando algumas pessoas. O povo da Bahia é um povo muito acolhedor são pessoas lindas, eu me identifiquei muito com eles, e como eu sempre fui uma boa vendedora, comecei a trabalhar com renascença uma renda típica do Nordeste. Ela teve inicio na minha cidade. Por mais que determinem outros estados ou Cidades como Pesqueira! A origem foi a Cidade de Poção. De lá saiu os primeiros trabalhos; hoje esta renda espalhou-se por todo o Nordeste. E foi com este produto que demos inicio a um trabalho na Cidade de Candeias e região, estávamos vendendo bem, conseguindo uma boa caderneta de clientes ele viajava para Poção de quinze em quinze dias para fazer compras.
 A situação financeira estava melhorando, as crianças estudando, eu tinha até uma pessoa em casa que me ajudava nos serviços domésticos. Mais as brigas, a falta de respeito, as humilhações continuavam; a sensação é que nunca acabaria que aquela situação seria para sempre. Ele começou a jogar a minha irmã contra mim, falando que ela estava aconselhando-o a ter uma amante e chegou a apresentar uma amiga, isso me deixou louca de raiva queria matar a minha irmã, não sei se era verdade nunca perguntei pra ela.
 Como eu era uma pessoa revoltada cheia de magoa e ressentimento trazia na minha expressão todo aquele sentimento de amargura todos me julgavam, enquanto ele apresentava-se como uma pessoa calma equilibrada e dona da verdade; conquistava a minha família com uma facilidade. Quando ele me tratava bem, eu esquecia tudo que tinha acontecido de ruim, e começava a criar expectativa de um futuro melhor. Voltava a sorrir imaginando que um dia iria conhecer a paz! Que eu tanto desejava...

domingo, 4 de agosto de 2013

Morando em Poção...

Apesar de tudo que aconteceu em relação ao comportamento dele com a minha irmã, quando íamos á casa da minha mãe, ele se comportava como se nada tivesse acontecido. Como se ele não a tivesse tratado com tanta grosseria. Eu ficava observando aquele comportamento absurdo, ele foi tão hostil com a minha irmã quando ela esteve em nossa casa, e na casa dela, ele agia com tanta naturalidade, sinceramente não conseguia entender era inacreditável.
 Não conseguindo trabalho em Caruaru; ele começou a trabalhar com o pai vendendo roupas, os dois viajavam nos finais de semana para as cidades próximas; fazendo feira era uma vida sacrificada sem conforto, diferente da qualidade de vida que nós tínhamos em São Paulo. Não demorou muito o dinheiro foi acabando e o que ele ganhava mal dava para as despesas, eu não estava feliz, sentia saudade de são Paulo, sempre falava em voltar mais ele não queria estava no meio da família e era tudo que ele desejava.
 Mas a falta do dinheiro fez com que ele percebesse que os primos estavam se afastando, já não o convidavam com a mesma freqüência, porque ele não tinha como pagar as despesas dos amigos. Um dia ele chegou pra mim, e perguntou se eu queria ir morar em Poção a minha cidade natal aceitei imediatamente seria uma forma de me afastar daquele pessoal...
 Fomos para a casa da minha mãe ficamos alguns dias. O meu Professor de matemática e Diretor do Colégio onde eu estudei era o Prefeito da Cidade, sabendo da nossa situação, nos ofereceu uma das suas casas, na qual só pagaríamos a água e a luz, ele aceitou, mudamos de imediato.

 Como não tinha trabalho para ele eu comecei a fazer blusas de tricô para vender, ajudando nas despesas da casa, em um dia e meio eu conseguia fazer uma blusa, não faltava encomendas, por ser uma cidade muito fria e não tinha quem soubesse fazer tricô todos me procuravam. Ele começou a me ajudar nos afazeres da casa para eu ter tempo de atender as minhas clientes.

 Mas ele não estava se sentindo bem com a situação sempre gostou de trabalhar, na verdade sentia-se humilhado, por não esta fazendo alguma coisa que lhe rendesse dinheiro; poderia ter todos os defeitos mais sempre assumiu as despesas da casa. Ele resolveu construir uma casa no terreno da minha mãe, por algum motivo se desentendeu com o meu cunhado e parou com a construção. Não sabendo mais o que fazer, e com certeza percebendo o seu erro em ter saído de São Paulo.

 Perguntou o que eu achava dele ir para a Bahia ver o que poderia conseguir por lá? Eu concordei! Nada estava dando certo em Pernambuco; quem sabe na Bahia, poderia existir á possibilidade de uma vida melhor? Ele viajou para candeias, e eu fiquei com as crianças em Poção.

domingo, 28 de julho de 2013

Morando em pernambuco....

A Luiza morava com a minha mãe, depois da morte do papai, ela ficou fazendo companhia para a mamãe. Casou e continuo com ela, tinha três filhos. Então eu não estava só na casa da minha mãe, era a casa dela também. Agora eu estava lá com duas crianças, sem falar que todas as nossas despesas, eram por conta deles.

 Eu não concordava com a atitude do meu marido, não era justo, mas ele não estava preocupado com a mulher e com os filhos. A preocupação dele era ficar em Caruaru. E foi fácil convencer a todos, falou que estava trabalhando e procurando casa para alugar, sabia que não era verdade, mas a minha opinião não fazia diferença. A minha mãe via a minha indignação como ciúmes e sempre o defendia. Eu no sitio com as crianças e ele dando uma de solteiro em Caruaru, quando ele vinha-me ver ficava dois ou três dias e logo voltava sempre com a mesma desculpa. Quando eu falava para ir com ele a resposta era; que na casa dos pais dele não tinha lugar pra mim e para as crianças e eles não gostavam de mim! O que eu ia fazer lá?

 Um dia estando revoltada com toda aquela situação peguei as crianças e fui atrás dele, minha mãe ficou furiosa por que eu não tinha paciência, ele estava trabalhando o melhor era esperar ele aparecer. Quando eu cheguei à casa dos pais dele, me trataram bem e queriam saber por que eu decidi ficar no Sitio? Foi essa a impressão que ele passou para a família dele, que eu não queria ir com ele.
 Algumas horas depois ele chegou não falou onde estava aparentemente ficou feliz com a minha chegada, saiu comigo fomos visitar alguns familiares, mais no outro dia me levou de volta para a casa da minha mãe. A minha atitude o surpreendeu, ele imediatamente providenciou uma casa. Afinal já fazia uns dois meses que eu estava na casa da minha mãe.
Alguns dias depois ele chegou para me buscar finalmente à situação estava resolvida. Fui mora na cidade de Caruaru, ao chegar tomei algumas providencias coloquei á casa em ordem matriculei as crianças na escola.
 Tudo voltou ao normal uma semana em paz a outra de briga as crianças presenciando tudo. Aos pouco fui descobrindo tudo o que ele aprontou durante o tempo que ficou sozinho na casa dos pais. Nos dias de domingo ele saia com os amigos em companhia de mulheres, iam para as cidades mais próximas tomavam banho nos açudes, bebiam, almoçavam e ele pagava todas as despesas, o que eu temia aconteceu, eu tinha que agüentar tudo calada e fingir que não sabia do que aconteceu.

 A Luiza estava com uma consulta marcada com um Ginecologista em Caruaru, um dia antes da consulta ela foi para a minha casa, ficaria comigo e no outro dia iria ao medico. Fiquei tão feliz era a primeira vez que ela estava me visitando; ela chegou à parte da tarde com o filho mais velho o Thiago, estávamos conversando as crianças brincando, todos felizes.
 Quando o meu marido chegou, eu saí correndo para cozinha fui preparar o jantar, porque com a chegada da minha irmã me empolguei, estava um pouco atrasada; quando ele entrou já estava com a cara fechada, mal cumprimentou a cunhada eu fiquei com tanta vergonha com a atitude grosseira dele, ficou um clima tão pesado, ele conseguiu contaminar todo o ambiente; até as crianças perceberam, perguntei o que tinha acontecido? Ele não respondeu. Passei a noite me torturando querendo saber o que eu tinha feito? Todas as vezes que ele tinha essa reação eu ficava dois ou três dias desesperada me perguntando o que fiz para ele me tratar mal?Era sempre assim quando tudo estava bem ele tinha uma desculpa para estragar o momento.

 No outro dia a Luiza levantou tomou café pegou o filho dela e foi embora, nunca mais voltou na minha casa, como fiquei triste com aquela situação. No dia seguinte a mãe dele me falou que ele comentou com ela; que a minha irmã tinha levado uma carta de um ex-namorado meu, eu estava lendo a carta quando ele chegou, corri para esconder e este foi o motivo de toda a confusão. Lembram? Lá atrás ele fez a mesma coisa um dia antes do batizado do meu afilhado, quando o marido da minha amiga passou de moto. E era essa a minha vida, ele sempre me caluniando para esconder o seu verdadeiro comportamento, me acusando para desviar a minha atenção e não perceber o que ele realmente fazia.

domingo, 14 de julho de 2013

Voltando Para Pernambuco..

Passado alguns meses. Ele deu inicio ao processo de mudança, vendeu a loja, conseguiu um caminhão para levar a mudança, mandou o meu sobrinho junto. Ficamos mais um mês para organizar o que faltava. Naquele sábado levantei cedo, trabalhei a manhã inteira organizando algumas coisas, ele se encarregou de cuida do carro, lavar, trocar o óleo, ao meio dia todos nós almoçamos. Preparei as crianças; ele colocou as malas no carro, e por volta das 14:00h. Partimos de São Paulo com destino a Pernambuco. Especialmente para cidade de Poção.
 Ao saímos, eu já estava chorando, não queria ir, sabia a vida que me esperava, afinal foi lá que eu fui criada, conhecia os costumes, o machismo. Aqui ele já não tinha respeito por mim! Imagina lá, onde o homem tem duas ou três mulheres, todos ficam sabendo, e parece tão normal. Fui contra a minha vontade! Tinha medo de ter mais uma surpresa, não sabia o que a vida poderia me reserva. Tinha também o lado financeiro, do que iríamos viver?Por esse e outros motivos a minha resistência. Diadema foi uma cidade que eu escolhi para mora e queria continuar aqui, mesmo com todo o sofrimento que eu vivia. A culpa não era do lugar.

 Chegando perto de São José dos Campos eu continuava chorando ele parou o carro no acostamento tirou dinheiro da carteira e falou. ¨ Ou você para de chorar, ou pega esse dinheiro volta pra São Paulo."Mas nunca mais você vai ver os seus filhos". ¨ E muitas vezes diante das ameaças você é obrigada a seguir por caminhos cheios de pedras e espinhos, e no final da jornada com os pés feridos e o coração dilacerador pela dor, você tem que ter força para seguir em frente, e fazer suas escolhas. E foi isso que eu fiz ,engoli o choro olhei para o banco de trás vi os meus filhotes dormindo, naquele momento surgiu uma força de dentro de mim, e entre as lagrimas e o sorriso, venceu o sorriso. Porque uma mãe é capaz de dá a vida pelos seus filhos. Ela é capaz de superar todas as dificuldades pelo bem estar deles, e nessa hora foi por eles mais uma vez que eu me submeti à vontade dele.

 Seguimos em frente, foram três dias de viagem, paramos em cadeias, uma cidade no interior da Bahia perto de Salvador. Ficamos na casa da minha irmã mais velha, ela morava nessa cidade há algum tempo, ficamos por lá uns quinze dias ou mais não lembro bem; ela com o marido estavam tentando nos convencer a comprar uma casa e fica morando por lá. Mais ele não quis resolveu ir embora para Pernambuco, e fomos direto para a casa da minha mãe onde já estava a nossa mudança.
 Fiquei feliz ao chegar afinal estava revendo a minha família, mas me perguntava como seria a nossa vida a partir daquele dia? Como e onde iríamos morar? Não estávamos ali passeando! Agora; era diferente eu não tinha casa, estava morando na casa da minha mãe com um marido e duas crianças. Qual seria a atitude dele?
 Os pais dele já estavam morando em Caruaru; chegaram antes de nós, e já tinham se organizado, estavam todos trabalhando, uma semana depois da nossa chegada fomos visitar a família dele e conversando com o pai ele resolveu que eu ficaria com as crianças na casa da minha mãe, enquanto ele iria ficar com os pais há oitenta quilômetros de distancia. Quando eu quis resistir ele simplesmente falou que na casa dos pais não tinha espaço para nós. E mais uma vez fui obrigada a dizer sim e como sempre me curvei diante dele.

domingo, 7 de julho de 2013

A creditava Nele...
















E assim os dias iam  passando. E eu cada dia me distanciando das pessoas, muitas vezes ferindo aquelas que estavam próximas de mim, acreditava que agindo dessa forma estaria agradando a ele. E fui perdendo as poucas  pessoas que ainda restavam ao meu lado, e cada dia ficando mais sozinha dentro do meu mundo de amargura. E ele gostava, por que tinha um bom argumento para usar contra mim.

 Ninguém gosta de você! Já olhou em volta? Não tem ninguém, as pessoas não te suportar! Você é sozinha no mundo eu sou a única pessoa que gosta de você. E se eu te deixar! Nem os filhos você vai ter. Esqueceu que você matou o seu pai e a sua família não te aceita? E foi assim que ele começou a me torturar eu acreditava em tudo que ele falava fazia tudo que ele queria para não ouvir essas palavras, que tanto me machucavam. Mas, quantas vezes chorando agradecia por ele estar ao meu lado, até me sentia merecedora de tudo que ele fazia comigo. E, aos pouco o ódio foi tomando conta de mim, fui perdendo a minha auto-estima, me tornei uma mulher amargurada. 

 Ele conseguia passar a imagem de um bom marido, para a minha família, como para as pessoas do nosso convívio, eu sempre era a ruim. Nessa época eu trabalhava para ajudar nas despesas de casa. Eu tinha um comercio em um dos Bairros mais violento da cidade de Diadema, todos os dias eu ia com as crianças, ele trabalhava no centro de São Paulo, voltava tarde às vezes quando ele ia me buscar já passava das 20:h era uma vida difícil. 

 O Silvio adoeceu, começou a apresentar febre alta, eu fiquei apavorada nunca tinha visto meu filho naquele estado, levei ao medico diagnostico pneumonia, e mesmo diante daquela situação eu tinha que tomar conta da loja, da casa e cuidar do menino, ele não permitiu que eu ficasse em casa para cuidar do meu filho, foram duas semanas de sufoco mais conseguir superar. Quando voltamos de Pernambuco ele estava com  ideia  fixa de ir embora. Trabalhava com esse objetivo. Só que agora, não era só ele, o pai dele também decidiu ir junto com toda a família. Não adiantaria ser contra ele, só iria piora a situação e mais uma vez eu era obrigada a dizer sim.

domingo, 30 de junho de 2013

Aceitando as Mingalhas..

Terminamos de fazer as compras. Voltamos para casa, o clima já era, o de uma família perfeita. Eu estava alegre, feliz, tudo estava resolvido à paz voltava a reinar na minha vida. Quando chegamos em casa, ele sugeriu. que eu ficasse fazendo o almoço enquanto ele iria buscar o meu sobrinho. E foi no meu irmão como se nada tivesse acontecido. Pegou o moleque e veio pra casa; estava tudo bem ninguém podia mais falar no que aconteceu, aquele assunto estava encerrado.
 Almoçamos em seguida ele saiu para visitar um cliente, estava feliz me beijou saiu com a maior naturalidade, fiquei com as crianças contente agradecendo a Deus por que ele estava bem. E se ele estava bem, eu também estava. Eu vivia em função do bem estar dele, era sempre ele em primeiro lugar. Peguei tudo que era meu levei de volta e arrumei no guarda-roupa, e o que era do meu sobrinho mandei para a costureira consertar. A vida voltou ao normal, como sempre uma semana de brigas na outra uma falsa paz, essa era a minha realidade. E muitas vezes eu conseguia passar a imagem de uma mulher feliz.

 Sempre que acontecia uma desavença entre nós ele ameaçava sair de casa, mas ficava só nas ameaças, eu chorando, humilhada me rastejando aos seus pés, conseguia impedi que ele fosse embora, mas chegou uma hora que ele começou a sair de casa, brigava pegava algumas roupas e ia embora, ficava fora uma noite, no outro dia voltava como se aquela atitude fosse normal, eu que tinha passado a noite chorando em desespero, me atirava em seus braços radiante, me sentindo feliz, fazia tudo para agradá-lo, algumas vezes ate chorava de alegria por ele ter voltado.

 E dessa forma fui me anulando. Esquecendo que eu era gente, que dentro de mim habitava um ser humano, com sentimentos e emoções. Esqueci de viver a minha vida para viver a vida dele. Aos pouco fui matando a minha amiga Marlene! Enquanto isso, foi surgindo uma mulher sem iniciativa, sem vontade própria. Uma mulher que aceitava tudo que falavam ao seu respeito, me sentindo inferior a tudo e a todos. Esqueci  meus sonhos  meus ideais. Fui perdendo o meu respeito  minha dignidade. Conhecendo a magoa e a revolta, esquecendo que um dia falei da paz e acreditei no amor.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma Noite de Terror..

Naquela noite, sozinha com duas crianças, um marido opressor, sem ter a quem pedir ajuda, não sabia o que fazer. Chorei! Senti medo. A noite seria longa, não tinha idéia do que ele era capaz de fazer comigo. As crianças assustadas; eu não conseguia entender o porquê da situação, como alguém poderia transformar a vida em um verdadeiro inferno? E tão rápido. Não sabia como reagir.

 Peguei as crianças, dei banho, jantaram. Em seguida fui com elas para o quarto, quando dormiram fui até a cozinha ao passar pela sala percebi que ele estava dormindo no sofá. Senti vontade de tomar banho, mas estava com medo que ele pudesse acordar; peguei uma faca que costumava usar para cortar carne, levei comigo para o quarto e coloquei debaixo do travesseiro.

 Deitei-me ao lado das crianças, mas não consegui dormir. Estava frio e a sensação era que as horas não passavam. Estava desconfortável e não conseguia me aquecer, com a mesma roupa que usei durante o dia: calça jeans e tênis. Durante a noite, ele entrou no quarto, várias vezes acreditando que eu estava dormindo. Chamava-me e perguntava se eu não ia embora.

 O dia já estava amanhecendo quando consegui dar um cochilo. Não demorou muito ele chegou e disse: “levanta, pegas suas coisas e vai embora!”. Eu abri os olhos, suspirei e pensei: “não foi sonho, o pesadelo continua”. Levantei, fiz café e preparei o leite para as crianças. Na sala roupas, sapatos, tudo que era meu estava ali jogado no chão. Ele me torturando, querendo que eu fosse embora e não voltasse. Deixe-o falando e fui ligar a TV para as crianças assistirem desenho animado. Naquele exato momento, o Papa João Paulo II estava rezando um Pai Nosso pelo dia Mundial da Paz. Era uma segunda feira dia 27 de outubro de 1986.

 Chorando, rezei junto com o Papa e pedi uma luz para Deus. Supliquei pela paz na minha casa, já não estava mais aguentando aquela situação. Pedi que Ele me ajudasse, olhasse por mim e pelos meus filhos, que desde o sábado presenciavam aquelas cenas. Passou algum tempo e eu tomei uma decisão. Iria à casa dos pais dele ver o que poderiam fazer por mim. Peguei a bolsa e sai deixando as crianças com ele, afinal, era o pai e com certeza não ia fazer nenhum mal a elas.

 Pensando assim fui embora, mas quando desci do ônibus e estava atravessando a rua ouvi uma voz chamando mamãe! Olhei e era a minha filha. Levei um susto! Logo que sai de casa ele pegou as crianças, colocou no carro e veio atrás de mim, seguindo o ônibus. Em frente ao ponto de ônibus tinha um supermercado; ele entrou, estacionou, foi até a lanchonete como se nada estivesse acontecendo e pagou lanche para todos nós. Me chamou para fazer compras porque não tinha nada em casa e o armário estava vazio. Eu olhava e não acreditava no que estava acontecendo, mas confesso estava feliz: tinha acabado de receber um pouco de migalhas e ele estava me tratando bem.