Uma senzala cruel, que machuca, que oprime, que aos pouco foi me diminuindo, tirando a minha auto-estima me levando á acreditar na minha incapacidade, mexendo com o meu psicológico fazendo com que eu acreditasse que era merecedora de tudo que ele fazia comigo. E naquele momento sozinha com os meus pensamentos lembrei-me daquela escrava com o seu filho no colo assustada. Em alguns momentos da minha vida me senti como ela.
( Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto o braseiro, no chão. Entoa o escravo o seu canto.
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão…
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava.
Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde.
Talvez, pra não o escutar!)
Ali, perdida em meio, aos meus pensamentos; não percebi o tempo passar, e, quando dei por mim, já era hora de voltar para a minha senzala, mais nessa senzala tinha algo de bom me esperando, os meus filhos e era por eles que eu sempre voltava.
Algumas vezes tive vontade de ir embora, mas sentia medo, me achando incapaz de viver sozinha com os meus filhos, não tinha condição financeira. Não me sentia mulher o suficiente para assumir tamanha responsabilidade.E por esse motivo me sentia obrigada a continuar ao lado daquele homem.
Sai caminhando até a Rodoviária com os passos lentos e o pensamento longe, sentindo saudade da minha terra, e refletindo sobre a minha vida. Tomei o ônibus e fui embora.
Cheguei um pouco tarde ele não me dirigiu a palavra, as crianças, como sempre correram ao meu encontro e naquele momento eu esqueci tudo que aconteceu. As humilhações que eu passava ao lado dele, todo o meu sofrimento era recompensado com sorriso dos meus filhos.
Dia 07 de setembro. Comemoração da Independência do Brasil. A Silvia estava radiante, vestida de princesa o Silvio saiu com os trajes de índio, os dois estavam lindos. O meu marido se comportava como se nada tivesse acontecido; saiu vestido de palhaço, feliz alegrando a todos, eu estava feliz, parecíamos uma família de verdade. Era sempre assim quando estávamos em publico, conseguimos passar para todos; a imagem de um casal feliz. Mas quando chegávamos á nossa casa, a realidade era outra.
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