Os dias foram passando e os meses também. A vida conturbada continuava, as lagrimas não cessavam, naquela vida triste de trabalho árduo, sempre dentro de um ônibus fazendo às regiões próximas a cidade de Candeias; carregando uma sacola pesada. O sol forte, a pele queimada, uma tristeza no olhar, muitas vezes tentando esconder a realidade. Quanta vezes sorria para não chorar, ou afastando as pessoas de mim sendo rude, ou mesmo agressiva; eu acreditava que sozinha no meu mundo, talvez sofresse menos.
Um dia a Silvia chegou com um recadinho da professora solicitando a minha presença na escola, fiquei me perguntando o que ela teria aprontado? No dia seguinte compareci a escola e a professora me falou. Como estava se aproximando o mês de setembro, e com a comemoração do feriado do dia 07 ela escolheu a Silvia para desfilar como princesa e seria necessário compra o vestido dela, e me avisou; que eu só encontraria o tecido na Capital.
Fiquei apreensiva nunca tinha ido sozinha á Salvador, minha reação foi falar com ele, e perguntar se ele iria comigo? Porque eu não conhecia a cidade, afinal ele era o meu marido e pai dos meus filhos. A resposta dele foi não! E já começou uma briga, dormimos separados naquela noite e nas duas noites seguidas pelo fato de eu o ter chamado para ir comigo.
Mais no dia seguinte eu fui até Salvador e chegando lá descobri que pessoas maravilhosas são os baianos, me deram todas as informações que eu pedia, conseguir chegar ate o lugar que eu precisava ir, comprei tudo que eu necessitava; entrei em uma lanchonete tomei um lanche fui até a Praça Castro Alves. Lugar que me trouxe muitas recordações de quando era uma adolescente época do colégio nas comemorações do dia 7 de setembro eu sempre era escolhida para falar de alguém importante na Historia do Brasil, automaticamente eu escolhia o grande poeta Castro Alves. Pelos seus poemas, pela sua luta em defesa da escravidão.
E naquela tarde; debruçada no muro daquela praça cujo nome dedicado ao meu grande herói. Contemplando aquele Mar imenso á minha frente lembrando o tempo que eu era feliz, me sentia alguém, vivendo na casa dos meus pais, estudando, trabalhando, podendo ri brincar ou mesmo chorar. Eu era dona de mim.
Hoje me sentindo escrava de um marido que me dominava com o seu jeito cruel e ainda deixava as pessoas e a minha família entender que eu não era uma boa mãe, muito menos uma boa esposa.
Lembrei-me do livro. Os Escravos. Que sempre foi um dos meus preferidos. E uma canção que me chamava atenção era a. Canção do Africano. Eu me sentia na senzala como aquela escrava; chorei me perguntando. Será que, se o Castro Alves estivesse aqui hoje não faria um poema falando da senzala dos brancos? Porque eu faço parte dessa senzala.
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