Como em toda cidade do interior, a minha não poderia ser diferente: sábado era dia de feira, quando todos da redondeza ficavam aguardando para reverem uns aos outros, principalmente quem morava na roça. Naquele sábado, todos que estavam na casa da minha mãe foram à cidade, inclusive meu marido, meus filhos e eu. Fizemos compras para o batizado do meu afilhado que seria no domingo de manhã, encontrei algumas pessoas amigas que não via há muitos anos. Fui até a prefeitura com a minha irmã, cumprimentar o prefeito que foi diretor do colégio e meu professor de matemática durante quatro anos. Me senti uma criminosa, pois fomos escondidas. Fiquei refletindo sobre toda aquela situação. Para uma pessoa como eu, criada em liberdade, fazer qualquer coisa em segredo era muita humilhação. Meus pais sempre confiaram em mim. Naquele momento, sentia-me prisioneira de um homem que vivia controlando a minha vida, dizendo o que podia ou não podia fazer. Mas não conseguia me libertar, estava presa em nome de um amor doentio. Amor esse que aos pouco ia acabando com minha alegria de viver.Dando espaço a tristeza. Tristeza esse, que me obrigava a usar uma mascara para esconder a realidade. O sorriso surgia ao mesmo tempo que a lagrima, os dois deram inicio a uma longa caminhada. Tornando-se amigos inseparáveis.
No final da tarde viemos embora. Na saída, passou um moço em uma moto, mas foi tão rápido que não percebi. A minha irmã falou que era o marido de uma colega do tempo do colégio; e meu marido, com seu ciúme possessivo, entendeu que era um ex-namorado meu. Daquele momento em diante, teve inicio minha dor de cabeça. Ele, como sempre, começou me atacar. Bastava um simples olhar para eu saber que não estava nada bem, que o motivo foi aquele motoqueiro, cujo único erro foi passar ali naquele exato momento, coitado! Nem sabia da minha existência. Chegando ao sitio, ele não me dirigiu mais a palavra e no domingo fomos para o batizado, afinal, éramos os padrinhos. Durante toda a cerimônia, ele não me olhou, não me dirigiu a palavra. Foi difícil suportar aquele clima pesado.
Minha irmã e seu esposo perceberam sua indiferença, mas eu já estava acostumada com esse tipo de atitude. Era dolorido, mas já estava condicionada a aceitar tudo que ele fazia.
Teve um almoço com vários convidados, tinha pessoas da família como também alguns vizinhos. No decorrer do dia fiquei com as crianças, fingindo que estava tudo bem, porque sabia que cada passo que eu dava, cada gesto que eu fazia, ele estava vigiando. Não podia permitir que as pessoas percebessem que meu casamento era um fracasso. Que na realidade era uma mentira. Sempre fingia, dava a entender que meu relacionamento era ótimo. E conseguia passar essa imagem para a maioria das pessoas, menos pra mim. Terminando as férias, voltamos para São Paulo. Tínhamos ido para Pernambuco de carro, mas quando chegamos a minha cidade, ele, resolveu vender o automóvel, por isso, voltamos de ônibus. Foi horrível! Três dias na estrada, sem nenhum conforto, dormindo dentro do ônibus com as crianças no colo. Agradeci a Deus quando chegamos à Rodoviária do Tiete.
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