No momento em que ele colocou o pé com intenção de me derrubar eu tropecei ;e, automaticamente, ;segurei a Silvia com rapidez e com tamanha força que me mantive firme. O meu instinto de mãe foi proteger os meus filhos e com certeza a mão de Deus veio sobre nós naquele ;momento me dando o equilíbrio necessário.color:Equilíbrio que nem sempre me acompanhou naquela fase. Em muitos momentos pensei que iria enlouquecer. Talvez pudesse já estar por deixar que ele dominasse a mim e a minha vida daquela forma. Só quem viveu ou ainda vive essa situação sabe o que estou falando. A Silvia se assustou também e começou a chorar. Eu parei. Estava sem entender o porquê daquela maldade. Comecei a chorar em silêncio. Nunca gostei de escândalo, principalmente em público. Estava com medo. Diminuí o passo até o ponto de ônibus, ficando um pouco distante dele.
Chegando em casa começou uma discussão. Ele me bateu. Pela primeira vez ele se atreveu. Bateu na minha cara e doeu. A pancada foi forte. Eu nunca havia levado uma tapa de um homem, na cara e nem em lugar nenhum do meu corpo. Nem meu pai nunca levantou a mão para mim ou para outro filho. Mas, naquele dia ele me bateu!
Como foi difícil suportar aquela noite ao lado dele. Passei a noite toda pensando no que eu poderia fazer. Nenhuma conclusão, a não ser continuar ao seu lado. Eu não tinha para onde ir. Eu só tinha medo e duas crianças sob a minha responsabilidade. Uma com oito meses e a outra no meu ventre. Quanta decepção para uma mulher ao descobrir que, com tão pouco tempo de casamento, o homem com quem ela pensou que poderia ser feliz, vivendo em sua companhia todos os dias da sua vida poderia se transformar em um agressor.
De repente, o conto de fada acaba e ela vê seu príncipe encantado virando um sapo. Nesse dia eu descobri que não é o sapo que vira príncipe, e sim o príncipe que vira sapo. E eu teria que engolir aquele sapo pelo resto da minha vida. Aquele homem que bateu no meu rosto não respeitando a barriga de seis meses. E aquela criança que estava se desenvolvendo dentro de mim, chutava tanto que eu até pensava que um dia seria jogador de futebol.
Que respeito eu poderia ter por esse homem? Nenhum! Mas, os dias foram se passando e com o tempo a gente vai esquecendo tudo o que aconteceu. A dureza da vida e a carência afetiva fazem com que tudo volte ao seu lugar. Com todo mundo é assim. E comigo não poderia ser diferente. Na minha fragilidade em vários momentos me flagrei implorando pelo seu amor. Ou melhor, pelas migalhas. E quanto mais eu implorava, mais ele judiava de mim. Ele sabia o quanto eu era sozinha e o quanto eu dependia dele.
Quantas vezes durante uma briga ele falava que ia embora eu ficava desesperada, me perguntando o que seria de mim? Sem trabalho, com duas crianças, sozinha. Era isso que passava pela minha cabeça. Voltar para minha cidade como? Do que eu ia viver? Como manter as crianças? Eu chegava a me ajoelhar aos pés suplicando, pedindo pelo amor de Deus que ele não me abandonasse.Eu fechava a porta e, ao mesmo tempo, escondia a chave para ele não ir embora. Quando ele percebia que tinha me humilhado o suficiente, que eu já não tinha mais lágrimas para chorar, satisfazendo seu ego, ele falava: tá tudo bem, dessa vez eu não vou embora, mais da próxima você não vai mais ter chance. E foi assim que eu vivi a minha segunda gravidez, um pouco mais dramática do que a primeira.
Um comentário:
Querida Marlene,
Admiro sua coragem e iniciativa de compartilhar sua historia conosco neste espaço virtual em que ao mesmo tempo que está sendo de grande testemunha para muitas pessoas que estão sofrendo em calados e caladas com varias situações de refem também nos faz refletir para onde deve andar nossa evolução como familia e pessoa humana.
Meus parabéns continue com Fé, Força e Trabalho.
Grande bjs Patricinha do Além.
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